13dez14 - Comunidade (por Munir Soares)

12/12/2014 11:13
O CABEÇA DA NOVEMBRADA
Data: 30-11-1979
Ainda em plena ditadura, o presidente Figueiredo foi recebido em Florianópolis. Ao assomar à sacada do palácio Cruz e Souza foi hostilizado por manifestantes. Saiu à rua e, de peito aberto, no meio do povo, discutiu com as pessoas que o desafiavam. Nada o impediu de cumprir sua agenda. Seguiu a pé até ao Senadinho para tomar um café no Ponto Chic. Senadinho era o templo sagrado, onde se reunia a aristocracia social e política da bela Floripa. Na Laguna tínhamos o Café Tupi embora, na santa terrinha, não tenhamos o hábito de jogar baralho ou dominó, em praça pública. Uma tradição na capital catarinense.
Naquele dia agitado, quando a comitiva do presidente chegou ao Ponto Chic, Carlos Augusto Baião da Rosa disputava uma aguerrida final de um torneio de “tranca”, alheio a toda aquela balbúrdia cívica. O presidente tomou café, e recebeu o primeiro Diploma da Confraria do Senadinho. Aplausos. Do lado de fora, alguém deu palpite sobre o jogo, ferindo as regras do torneio:
___ Peru de fora não se manifesta!
Nem mesmo sendo ministro da ditadura. Baião levantou-se irado, e sua cabeça chocou-se contra as avantajadas orelhas do Ministro, que teria ido a nocaute não fosse a rápida ação de um segurança.
Alguém gritou:
___ Agrediram o Ministro!
___ A confusão generalizou-se por toda a Felipe Schmidt. Um protesto que foi para a história com o nome de Novembrada.
Nem o SNI descobriu, que o cabeça da novembrada foi o nosso conterrâneo Baião da Rosa.
 
 
 
A MISSA DO GALO
Na exuberante praia do Mar Grosso aquele comerciante, aposentado, abria as portas de sua bela residência, recém-construída, para receber amigos. Ele, além de ter que aprender a administrar o ócio, mudava de casa, deixando para trás uma propriedade de mais de 2 hectares no centro da cidade, com excelente pomar e a menina de seus olhos, galos de briga, trinta e cinco belas espécimes, galináceos de peitos nus e espora de campeões. Brigas de galo ainda não haviam sido proibidas.
O barulho do mar e a ausência do trinado dos pássaros e do canto dos galos iam transformando as noites do referido cidadão numa sucessão de insônias.
___ Querida, argumentava ele, não podemos adaptar o quartinho de despejo para agasalhar, pelo menos, uns 20 galos, e transformar a sauna em rinha de treinamento?
___ Nada disso amor, deixa de andar de crista caída, e vamos curtir o que resta do verão de nossas vidas, antes que o inverno de nossa existência congele nossa sede de viver, filosofou a patroa.
___ Sem os meus galos sinto-me mais fraco que galinha d´Angola e mais angustiado que peru na véspera de Natal.
Os dias seguintes foram absorvidos pelos trabalhos de instalação de uma banheira de hidromassagens. Presente de Natal, dos filhos.
___ Uma boa hidromassagem vai tirar minhoca, isto é, galo, da cabeça do pai, pensavam todos.
Véspera de Natal. A família saiu para a Missa do Galo. O marido ficou, estava disposto a colocar em execução seu plano – missão galo. Mal pensou rápido agiu. Em poucos minutos seu galo de estimação “El Furacão” estava com ele, na sala de hidromassagens. Meia hora de puxado treinamento. “El Furacão” continuava em forma. Numa pausa, o aposentado resolveu adormecer seu cansaço num tépido e reconfortante banho. Ali ficou perdido no tempo, absorto, enquanto a espuma subia, sem controle e já ameaçando precipitar-se pelas bordas da banheira.
Na Missa do Galo o sacerdote falava do milagre do presépio; do Filho de Deus nascido na simplicidade de um estábulo, entre Reis e animais. Lembrou da Estrela Guia, e do galo que cantou, anunciando o advento de uma nova era.
___ O galo!  A esposa lembrou-se do marido e de seus galos. Sentiu remorsos. Estaria sendo egoísta sem aperceber-se?
Sem esperar a benção final e, antes mesmo que o galo cantasse pela terceira vez, rumou para casa.
Na casa, a espuma invadira a sala e descia pela escada. Quando a esposa abriu a porta liberou um mar espumante, que invadiu a calçada e espalhou-se pela rua. Apavorada a mulher ia correr escada acima, quando viu “coisa” lá no alto. Um grande pássaro branco, todo feito de espumas, gargarejando um canto rouco.
___ Seria o Galo da Missa ou o Espírito natalino a despertar consciências?
Ela não soube responder, desmaiou por alguns segundos. Acordou nos braços do marido, e tiveram uma noite de gala, ou melhor, de galo, pinto, ou de quaisquer outras aves que se possa imaginar. O quarto do casal foi remodelado, em forma de rinha, com a cama no meio, e a briga só termina quando um dos dois abre o bico. A esposa gosta de dizer, que a harmonia conjugal, foi uma graça do Espírito de Natal daquela Missa do Galo.
___ E, o Galo?
___ Bem, o galo “El Furacão” depois do susto sentiu fome, parou numa encruzilhada, e banqueteou-se com pipoca e outras guloseimas num alguidar de despacho. Ficou freguês.
___ Quem por ali passava e via aquela ave espumosa fazia o sinal da cruz e apressava o passo. O local ficou conhecido como a “encruzilhada do caboclo espumoso” e do “El Furacão” ninguém mais teve notícias.
 
 
 
E, NA ESBURACADA SANTA TERRINHA, a vida segue
___ Começa o Moto Laguna. A terrinha está a mil e uma cilindradas.
___ Difícil o acesso aos molhes.
A Av. Aderson Remor, (S. Joaquim) bloqueada. Na avenida beira-mar a estrutura montada para o Moto Laguna também impede o acesso ao molhe norte por aquele caminho. É mais fácil ir pelo mar.
 
 
 
PLANTAÇÃO NA ORLA DA PRAIA
Reclamamos das palmeiras secas, herança do ex-prefeito Célio Antônio. Foram retiradas. Secretário determinou plantio de butiás e palmeira-real. Já tem gente xingando. Acho que o secretário Renato deveria plantar “bananeira” e mandar a oposição plantar “batata”.
___ Problemas com a iluminação pública?  - Ligue ROCHINHA. Com ele não tem Black-out. Fique aceso, na Prefa, quem dá luz é o Rochinha.
 
 
 
REINAUGURAÇÃO DO CINE MUSSI
Noite de gala. Na plateia um público seleto. Saudosismo explícito. Presença de autoridades do Iphan nacional, do Sesc, da prefeitura municipal e Câmara. Presentes também Juiz de Direito e representantes da Policia Militar, da Capitania dos Portos e do nosso neto Miguel. Casal de filhos do doutor Rau, arquiteto do projeto Cine Mussi estava entre os homenageados. Na tela, um documentário produzido em 2010 sobre a história do Cine Mussi. No elenco ex-funcionários do cinema (Maurício, Oto Siqueira, Carlinhos Horn, Nenê Pavanati) e alguns frequentadores.
A interpretação do ex-projetista Pavanati foi digna de um Oscar. A atuação da Lenira Amboni Nicolazzi e Maria Salete Remor de Souza (minha esposa) despertou interesse das redes de TV. Enquanto aguardam contato da Globo poderão atuar na SBT numa nova versão de “As Chiquititas”.
No Chedão os amigos faziam comentários sobre minha atuação no documentário.
___ Por que o Munir foi o único a ficar calado no filme?
___ Sua fala teria sido censurada?
___ Nada disso, esclareceu Edésio, como ele era o “artista” mais velho e assistiu a filmes do tempo do Tom Mix e Rodolfo Valentino estava ali representando o Cinema Mudo. 
 

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