14dez13 - Comunidade (por Munir Soares)

13/12/2013 09:50
UM VELÓRIO ERÓTICO
(Desventuras de um gaúcho nas grutas do dragão verde)
Pelas estradas da vida, grudado ao volante o motorista levava seu caminhão, em sua faina diária e estressante. Após engolir centenas de quilômetros de estrada ele resolve descansar num motel de beira de estrada de nome “Dragão Verde”. A moça que o levou para o quarto, também com a experiência de muitas milhas rodadas, permitiu, docilmente, que o homem circulasse, livremente, por todas as suas vias públicas e privadas e trafegasse por suas curvas, em todas as direções. Nos braços do amor, ele acelerou como se fosse um piloto de Fórmula Um, em busca de um grande prêmio. Gemeu nos freios, ultrapassou seus próprios limites, ignorando todas as regras de segurança. O motor não suportou, ele derrapou na subida, e capotou, de maneira definitiva, sobre a pista, ou melhor, em cima da garota de programa. Minutos depois, já chegava morto ao hospital da Laguna.
Na enfermaria, já despido, deitado de costas sobre a essa, o defunto logo se tornou o assunto do dia naquele nosocômio. A mulherada ficou excitada. O falecido, surpreendido pela morte, em plena transa, nem tivera tempo de recolher seu instrumento de trabalho. Seu “pinto” continuava duro e firme, rígido e forte, apontando para o teto. A freira de plantão, balbuciando jaculatórias, numa tentativa de ocultar o pecado, mandou que o cobrisse com um lençol, até que encontrasse outra solução. Foi pior a emenda que o soneto. Com o lençol jogado sobre a estaca, o falecido, literalmente, “armou sua barraca”. Infrutíferas foram todas as tentativas para fazer o defunto baixar o “pito”. Até o chofer de táxi, que fazia ponto no hospital, foi convocado a dar uma mãozinha. Quem sabe ele pudesse movimentar o câmbio do extinto, deixando o dito cujo, em “ponto morto”. Inutilmente, o poste continuava mais firme que pau de sebo em terreiro de festa junina.
Mais agitação naquela casa de saúde. A esposa, residente no Rio Grande do Sul, acabara de chegar, e inteirava-se das circunstâncias em que seu esposo havia morrido. Por princípios religiosos, a esposa manifestou-se contra a possibilidade de se amputar o membro que teimava em ficar de pé. Era contra a mutilação de cadáveres.
___ E o caixão? Como não havia tempo de se fabricar um, sob medida, com janelinha na região do baixo ventre, a urna teria mesmo que ficar sem tampa, aberta, como barquinho de um mastro só.
O morto ganhava notoriedade. Na cidade não se falava em outra coisa. Em peregrinação, muita gente subia o morro do hospital só para apreciar o monumento. Surgiu até uma beata, tentando liderar um movimento em favor da beatificação do Falo sobrenatural. Fotos, com receitas eróticas no verso eram vendidas no local. O membro teimoso e irreverente logo virou símbolo da fertilidade imortal, esperança para as mulheres que não conseguiam ter filhos. Um toque no “durinho” é gravidez na certa, garantiam os adeptos das “simpatias”. Na praça dos aposentados, onde habita muita gente viva, com “aquilo” morto, ele foi transformado em herói. Era o espírito do macho que permanecia, vivo e eterno, muito além das fronteiras da morte. No velório, os problemas continuavam. A viúva, católica, desejava que a encomendação do corpo fosse feita por um padre. 
___ Missa de corpo presente, nem pensar. Imaginem o sacerdote aspergindo água benta sobre aquela “torre de pizza”...
Com um toque de criatividade, alguns decoradores da terrinha apresentaram projetos para disfarçar o tal “peru imortal”... Um deles sugeria que o famoso cabuim, em homenagem ao nosso folclore, fosse decorado como um pau de fita. Outro transformava o esquife, no Titanic. Dois pombinhos na proa. E, o mastro?
___ o mastro, decorado com lírios, rosas vermelhas, e espada de São Jorge, parecia mais vivo que nunca. Foi o projeto vencedor.
O féretro iniciou sua última caminhada. Nunca se viu tanta coroa no enterro, e um “pinto” jamais fora tão desejado como “coberta d`alma”. Diante do túmulo um respeitoso silêncio, mais, quando o “Titanic” mergulhou no interior do sepulcro, a multidão não conteve seus suspiros de pesar.
Contam, ainda, que a sepultura foi violada e o falecido, capado durante a noite. Quem sabe, ainda hoje, conservado em formol num garrafão, o mandiocão do gaúcho, vítima do dragão verde, usado em rituais de magia e erotismo continue sendo útil aos carentes das encruzilhadas.
 
 
 
COTIDIANO DA TERRINHA
 
 
ABSURDO
Pelas esquinas da santa terrinha corre o boato, de que a empresa CONFER estaria autorizada a bagunçar o trevo de acesso ao Laguna Internacional. Em plena temporada, o motorista que pretenda trafegar pela av. Marronzinho vai ter que bordejar. Atrevo-me a dizer que vão conseguir bagunçar o caos...
 
 
 
CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
Nem era preciso ser um Garcia Marquez para prever mais um acidente numa das curvas da sinuosa e estreita estrada da praia do Iró. Além do tráfego intenso de veículos pesados, buracos, areia da praia invadindo o leito da rua, temos ainda a pedra do Daniel (seria implodida) seguida de uma curva fechada, espremida entre o guardrail e as rochas, que precisa ser alargada, imediatamente, antes que novos acidentes ocorram.
 
 
 
O GOVERNANTE
Ser prefeito de uma cidade é um privilégio de poucos. A liturgia do cargo exige postura e atitudes dignas da posição que ocupa. Ser popular não é brincar no Moto Laguna ou puxar o saco do Papai Noel. Prefeito popular é aquele que se identifica com o povo e é respeitado por ele.
 
 
 
ESTUPRO ÀS AVESSAS 
No último final de semana, nas areias da praia, uma garota seminua, gritava tentando desvencilhar-se de três homens. A tentativa de estupro foi abortada por populares que passavam e chamaram a polícia.
___ A senhorita foi violentada?
___ Fui sim, violentada em meus direitos de cidadã. Eu tentava tirar a calcinha e sambar pelada na arena da praça Seival e esses babacas me impediram, com violência.
Nem tudo é o que parece. Os “estupradores” foram liberados e a moça, indiciada por tentativa de atentado ao pudor.
 
 
 
O CUPIM 
O assoalho amanhece coberto por asas de cupins. Minha esposa Salete ao abrir a Bíblia para as orações matinais ficou surpresa ao notar que o Livro Sagrado estava infestado de cupins. Culpa do Noé que botou toda a bicharada na arca. No capítulo sobre as Tabuas da Lei os cupins já haviam digerido dois mandamentos. Antes que eles contaminassem o Novo Testamento minha esposa os afugentou com um banho de água benta. Comigo a situação foi mais complicada. Ao desenrolar o papel higiênico, lá estavam eles, os cupins, e pareciam mal-intencionados, não era o melhor momento para lhes desejar “boas entradas”...
 
 
 
POR CIMA
Numa das escalas do transatlântico, os dois vereadores lagunenses optaram por um passeio de helicóptero sobre a cidade. Gostaram. Já pensam em apresentar requerimento ao presidente Roberto Alves solicitando construção de um heliporto no pátio da Câmara. Uma maneira segura de se evitar o pessoal que defende o Gravatá.
 

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