14set13 - Tubarão: Médico morreu por amor à sua esposa

13/09/2013 12:01
A redação do jornal A Crítica recebeu um e-mail de um parente, que preferiu não se identificar, dizendo que o médico morto essa semana, Dr. José Antonio Matzenbacher Varella, não foi um herói, mas, também não foi um homem maldoso e que tudo o que ele fez refletiu diretamente nele mesmo. Abaixo, o e-mail relatando um pouco de sua história: 
“Com maestria criava belos desenhos, era amante da arquitetura, área em que cursou na universidade os semestres iniciais. Após uma desilusão amorosa, aos 24 anos de idade optou por mudar de curso superior, como acadêmico de Medicina. Tinha como propósito mostrar a ex-namorada o seu potencial ao que foi surpreendido por uma paixão, a de ser médico. Um gaúcho determinado e inteligente, em São Paulo cursava residência médica em anestesiologia quando recebeu convite de amigos íntimos, também médicos, para um novo desafio no sul de Santa Catarina. Na década de 90, estava atuando num hospital da Região o então Doutor, como clínico geral e também auxiliando os centros cirúrgicos com a anestesia. Neste mesmo hospital se apaixonou por uma menina humilde. Ela como secretária do hospital tinha ali seu primeiro emprego. Embora a menina não lhe desse qualquer oportunidade, (pois era comprometida com um jovem rapaz), ele insistia diariamente por sua atenção. Como obra do destino o namoro foi rompido e finalmente o Doutor firmemente investiu em uma relação amorosa com a menina, agora livre. Enamorados, o Doutor querendo viver em matrimônio cedeu à determinação do pai da menina e em outubro de 1996 celebraram o seu casamento. Numa modesta igreja, cercados dos parentes e amigos, regidos pelo Padre seu confidente, entoados pela música “Amigos para Sempre”, trilha sonora que sem saberem previa o futuro do casal:
 
“Você pode estar longe, muito longe sim
Mas por te amar, sinto você perto de mim
E o meu coração contente
Não nos perderemos, não te esquecerei
Você é a minha vida, tudo que sonhei
E quis para mim um dia” (Jayne)
 
Antes mesmo de completar um ano de casamento, em agosto de 1997, enquanto o Doutor cumpria seu plantão médico no hospital, a menina agora esposa, sofre um violento e fatal acidente de carro na BR 101. O Doutor perdeu seu chão, sua razão de viver. Por ser bem mais velho que sua esposa sempre acreditou que ele morreria antes. Como isto pode acontecer? E seus planos? A menina queria filhos, mas o Doutor pediu que aguardassem até que a mesma concluísse um curso superior. A menina morreu dirigindo, foi o Doutor que lhe incentivou a aprender a dirigir e fez as primeiras demonstrações. Seu carro estava à disposição da sua esposa, pois a queria autônoma e preparada para quando ele não mais estivesse ao seu lado, entendendo que viveriam a ordem natural das coisas. O sentimento de culpa o assolava a todo instante. Passados dois anos de muita tristeza o Doutor tenta reconstruir sua vida. Passa a clinicar em prol da saúde da família em municípios da região. Sua prática sem rodeios é carregada de conceitos médicos e também de sua experiência de vida. Incompreendido por muitos, segue cultivando um dos seus amores, aquele que ainda existia no mundo físico, a medicina. Aventura-se em novas relações amorosas, tem até uma relação estável. Com sua transparência tradicional sempre deixou claro às companheiras de que só houve um amor em sua vida, à esposa falecida e que nunca, nenhuma ocuparia o seu lugar de honra, mesmo na cômoda ao lado da cama onde repousava o seu retrato. Como de se esperar, na sua intimidade, só lhe restou à companhia das fotos frias da esposa falecida e o amor que lhe aquecia o coração. Vivendo sozinho nos últimos anos, adotou um cão pastor alemão com o nome de “Guri”. O Doutor buscava então reviver bons momentos do passado em que junto com a esposa falecida tiveram um cão da mesma raça e com o mesmo nome. Foram 16 anos desde a morte da esposa que o Doutor viveu em tristeza e sofrimento. Nesta jornada falsos amigos o rodearam de bem estar artificial. Resolveu isolar-se e comungar sozinho com o amor que há anos o acompanhou. Infelizmente, fez más escolhas mesmo que tenham sido sem maldade, pois seu objetivo era ter pelo menos alguns momentos de prazer nesta tão dura encarnação. Sua história não justifica algumas de suas ações, mas não há como desprezá-la.
Descanse em paz Dr. José Antonio Matzenbacher Varella, agora habitando o mesmo túmulo que sua tão amada esposa.

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