26abr14 - Comunidade (por Munir Soares)

SALSICHAS, CAMARÕES e SIRI

O carnaval lagunense acontecia no centro histórico. O desfile dos blocos, embriões das atuais Escolas de Samba, acontecia ao redor da Praça da Matriz. Durante os bailes públicos, o jardim Calheiros da Graça, na mesma praça, acolhia milhares de foliões durante seis dias. Ótima oportunidade para se ganhar dinheiro. Naquele ano, nossos barraqueiros investiram pesado. Beto Gordo, Danilo, Ronaldo Calazans e Jair Pellegini adquiriram todo o estoque de salsichas da região. Calazans trouxe, até, uns embutidos, do Paraguai. Armaram suas barracas, no interior do jardim. Chega o povão, alegre, descontraído. Iria chover na horta deles. As nuvens abriram suas comportas. O temporal desabou. Em poucos minutos as ruas ficaram alagadas. O centro do jardim virou piscina. Não houve tempo de colocar as mercadorias a salvo. As salsichas saíram boiando. Calazans, nadando atrás. Até cachorro-quente perdeu a linguiça. Salaminhos, também, desapareceram pelas bocas de lobo. Literalmente, o lucro sumiu pelo ralo. Foi o último ano de vida daqueles camelôs de carnaval. 

Laguna é uma cidade pequena, mas, infelizmente, já com alguns problemas de cidade grande: trânsito congestionado; sem área de estacionamento, aumento da criminalidade, carência habitacional e falta de lideranças. As pessoas mais antigas pouco se encontram para refrescar suas memórias. O pessoal da antiga Rua do Trilho, arrabalde de Campo de Fora, onde o trem fazia a volta, ainda se encontra pelas esquinas da vida a relembrar traquinagens de adolescentes. São eles, Afonso Barreto, irmãos Chede, Edson Bambu de salão, Edésio, Calazans e outros. Edésio seria o mentor intelectual das peraltices executadas por membros do grupo. Um cidadão, falecido, cujo nome omitimos, era o melhor pescador de linguado da cidade. Seu pesqueiro? Desde o mercado público até as proximidades do Morro do Rosário. Segredo?

___ Isca de camarões mantidos vivos num samburá, que ficava mergulhado nas águas da lagoa, isto é, em seu “habitat”.

Calazans resolveu “aprontar”. Aproveitando descuido do pescador, que saíra para fumar, na revessa do mercado, rouba os crustáceos, e coloca cocô, no lugar. Imaginem a surpresa do pescador ao segurar aquela isca. Uma semana depois, Edésio programou nova visita ao samburá do homem, com outras finalidades, saborear aqueles enormes camarões. Calazans, por sua experiência, foi encarregado da nova empreitada, enquanto o restante da “bagunça” ficava à espreita, atrás do muro da estação ferroviária. Calazans, sorrateiro, enfia a mão no samburá e solta um grito de dor. Recolhe a mão, trazendo junto, agarrado, um enorme siri da garra azul. Caíra na armadilha. Saiu correndo, desesperado, berrando de dor com o siri pendurado. Seus parceiros haviam sumido. Até o Afonso (pouca pressa) apertou o passo. “De tanto ir ao moinho, o rato acaba deixando o focinho”.

 

 

 

O CAÇADOR DE VAMPIRO

O Iate Clube de Laguna, além de ser um recanto aprazível, reservado e com estacionamento próprio, é local muito procurado para reuniões políticas, que exijam um pouco de privacidade. Em caso de visitantes inesperados e indesejáveis, há, sempre, uma saída de emergência, pelo mar. Naquela noite, o convescote político eleitoral reunia expressivas lideranças políticas do sul do estado, em volta de pratos de frutos do mar. Muita confabulação e estratégias de campanha, de olho no pleito de outubro deste ano. Havia um nome de consenso e, pelo que falavam, deduzia-se que o candidato tinha grandes possibilidades de chegar à Assembleia Legislativa. Terminada a reunião coube ao Coordenador de Campanha pagar as despesas daquela ágape eleitoral, cerca de 2 mil reais. Alguns dias depois, o cheque voltou. Não tinha fundos. Tratava-se de um engano, com certeza. O proprietário do restaurante, tranquilo, chamou o garçom. 

___ Vamos entrar em contato com o candidato. Como é o nome dele?

___ Acho que é lobisomem ou talvez, Drácula.

___ Vê se te decide, lobisomem é homem transformado em lobo. A fera da lua cheia. Drácula não é Batman, o homem morcego? 

___ Não chefe, o Conde Drácula é um morcego da Transilvânia que se transformava em Vampiro. 

___ O que teria a ver o nosso cheque-voador com essas criaturas mitológicas?

___ De acordo com o que diz o nosso bem informado freguês, Ronaldo Calazans, o nome, ou apelido do candidato em questão, é Vampiro. 

___ Qual seria o endereço dele?

___ Em se tratando de morcego vampiresco a correspondência deve ser endereçada aos cuidados do Batman?

___ Que tal um E-mail para a Bat-caverna.com? 

A caça ao Vampiro nem precisou ser iniciada. No dia seguinte, antes do sol nascer, o dinheiro teria sido colocado na conta, e com uma bonificação de 20% para o garçom, depositada no Banco de Sangue.

 

 

 

NA SANTA TERRINHA

 

COLHEITA

Quem planta colhe, diz o ditado. Na política da terrinha o adágio foi pro brejo. O Célio Antônio plantou, e o prefeito Everaldo é quem está colhendo os frutos.

 

 

 

ENCENAÇÃO

Mesmo com o tempo exíguo, Jairo Barcelos apresentou a peça da “Paixão de Cristo,” e levou à Praça de Anita, centenas de pessoas. O flamenguista Ricardão, no papel de Centurião, por pouco não levou um tiro da Anita Garibaldi. Aquele Centurião parado defronte ao prédio, onde foi proclamada a República Juliana, poderia ser algum caramuru disfarçado de soldado romano. A “TOMADA” já era. O povo continua aguardando das autoridades o motivo oficial do cancelamento. A Fundação Anita Garibaldi, responsável pelo evento, ficou ao “Léo”... 

 

 

 

BOIANDO

Dizem que o terminal pesqueiro não funciona nem na hora da “boia”. Colocaram uma boia de sinalização na boca da barra. A poita, muito leve, não segurou a boia que sai boiando... 

 

 

 

NOITE DA PAIXÃO

Na noite de sexta-feira santa, nosso amigo e vizinho Antônio de Pádua Nicolazzi, deixou este mundo, repentinamente, no dia 18, aos 77 anos. Sua morte surpreendeu a todos. Antônio era um cidadão metódico, disciplinado. Despertava às seis horas da manhã. Tirava o carro da garagem, preparava o café para a esposa Lenira, e saia para a caminhada na praia do Mar-Grosso. Religiosamente, verão ou inverno. Ainda dava uma passadinha pela Academia para uns exercícios extras. Não era obeso e nem sedentário, e tinha uma herança genética de longevidade. Sua mãe morrera com 103 anos, e seu tio acabara de completar um centenário de vida. Vivia feliz com esposa, filhos e netos. O que dizer à querida Lenira, prima de minha esposa e nossa amiga, ante este infausto acontecimento? Talvez repetir o que cantava Gonzaguinha:

___ O que é a vida? “Ela é maravilha ou é sofrimento / ela é alegria ou é lamento?

___ Ela é um divino mistério profundo / é o sopro do criador / numa atitude repleta de amor”.

A vida é uma caminhada, o importante é chegar ao fim da jornada, sem ter vergonha de ter vivido. Amiga Lenira, nosso abraço de profundo pesar.

 

 

 

BARBAS DE MOLHO

Entre as principais integrantes da associação beneficente “Mamãe Bebê”, seis são viúvas. Paulino Parente, marido da vice-presidente Maria Helena, vasculha todos os sites de busca à procura de um antídoto contra a viuvez precoce.