31jan15 - Comunidade (por Munir Soares)

30/01/2015 11:14
LAGUNA CARNAVAL E CINZAS
(texto publicado no jornal A Crítica, em 23 de janeiro de 1999)
 
A alma do carnaval lagunense sempre foi espírito carnavalesco de seu povo. Infelizmente, estão conseguindo o que parecia impossível, exorcizar esse Espírito para matar a alma do carnaval. No final dos anos 30, no galpão do “Pingos e Respingos” eu ia ver a montagem dos carros de mutação. Anos depois, surgiam os primeiros blocos de rua. Sapeca, Bambo e, posteriormente, Bola Branca e Bola Preta comandam a folia momesca nos salões de nossas sociedades recreativas. Com o passar dos anos as ruas ganhavam adeptos, o carnaval democratizava-se. O Cordão Carnavalesco Xavante conquistava o bairro do Magalhães. Nasce o “Sossega Leão” no arrabalde de Campo de Fora. “Vila Isabel” sacode o morro, desperta o “Mangueira” e leva, até, o “Amigos da Onça” para a passarela. A “Academia do Brinca quem Pode” projeta o samba na avenida, com a força de seus metais. Surge o “Bem Amado”, revolucionando o visual, fantasias luxuosas, mulheres lindas, e com pouca roupa. Uma revolução a vivo e a cores. O “Portela”, do Portinho, continuou esforçado. O “Democrata” desfila com organização e profissionalismo. “Mocidade Independente” é garra e criatividade. “Acadêmicos” do Micoco, sempre, um bom coadjuvante.
No quintal da minha casa, meu irmão fundou o primeiro bloco infantil de rua da Laguna, o “Filho do Xavante”. Logo em seguida, uma ala dissidente fundou o “Aimorés”. Na rua de Cima surgia os “Aprendizes do samba”. Todos do Magalhães. No auge da folia, nosso carnaval era um estado de espírito. A população do Centro, bairros e morros incentivavam seus blocos, e os aplaudia na avenida. A força daquele carnaval alegre, criativo, exuberante tornou-se a maior atração turística do município. A multidão, que chegava de outros municípios, transformava a Praça da Matriz, numa estranha Babel. Evolução. Os blocos e cordões abandonaram sua postura histórica, e passaram a desfilar como “Escolas de Samba”. As “Escolas” desfilavam pelo Centro Histórico, e contornavam o jardim Calheiros da Graça. Uma passarela de mais de 300 anos de idade, tendo como moldura nosso patrimônio arquitetônico. O palanque era montado quase defronte à Matriz Santo Antônio dos Anjos.
Os visitantes, cada vez em maior número, após os desfiles das “Escolas” queriam mais agito, passando a sitiar, literalmente, os clubes do Centro, Blondin e Congresso Lagunense. O segundo, por precaução, recebeu grades nas janelas. Grades que, certa noite, foram arrancadas com auxílio de um jeep. O Reinado de Momo tinha suas próprias leis, e seus súditos estavam ficando cada vez mais incontroláveis.
Diante da situação, na década de 80, o prefeito João Gualberto Pereira promoveu uma nova revolução no processo carnaval. Transferiu o desfile oficial para a rua Gustavo Richard, e contratou carros de som para animar a galera, que continuava na praça do jardim. Foram quase 10 anos de sucesso. Baile público (Som Cassiano) e desfile das Escolas conviviam, harmonicamente. Cada um com seu público. O remédio ministrado, em nome da segurança da população, teve seus efeitos colaterais, os bailes de salão, praticamente, morreram. Com o passar dos anos, o pré-carnaval, de quase dois meses de duração, foi encolhendo a cada ano. A criatividade individual dos foliões anônimos foi desaparecendo. A partir de 1993, já sob a batuta do prefeito Zanini, o baile público do Centro Histórico acabou, e o carnaval de praia ganhou novos incentivos. Perdeu o charme, e ganhou em licenciosidade, com os entrudos “dando um banho” nos transeuntes.
Voltemos ao desfile das Escolas de Samba, pois ele sintetiza a maior manifestação cultural de nosso povo. Praticamente, quase toda a população do município participava desse memorável evento. Infelizmente, as autoridades nunca deram a essa festa a devida importância, nem como carro-chefe do turismo, e muito menos, como a expressão viva de nossa cultura. Nunca houve planejamento na organização do carnaval, sempre foi feito na base do improviso, coisa de última hora, mas, vinha dando certo.
As coisas mudaram. As verbas já não caem do céu. E, o carnaval da Laguna, que um dia, pelas mãos do radialista João Manoel Vicente desfilou pelas ruas de Buenos Aires com a sua “Vila Isabel”, está de vela na mão, esticando as canelas, moribundo, preparado para desfilar na passarela da cidade dos pés juntos. Assim, estava o clima no final da década de 90.
Quase quinze anos depois, a história se repete.
O Sambódromo, construído para ser a apoteose do samba está virando túmulo do reino da folia. Já temos teias de aranha na pista do sambódromo. Pelo segundo ano consecutivo, não teremos desfile, o que pode ser fatal para a preservação da tradição, pois o espírito carnavalesco do lagunense está começando a não mais acreditar em fantasias...
Enquanto isto, no outro lado do morro, de frente para o mar, o reinado dos Abadás segue soberano. Somente o Bloko Rosa, com seus quase cinco mil figurantes, ocuparia todas as dependências do sambódromo, arquibancadas, camarotes e passarelas. Esta é a realidade em 2015. Os tamborins estão surdos e mudos. Helinho da Vila está compondo música sertaneja, e o eterno Catarina da cuíca, símbolo do carnaval de rua, terá que cuicar, num ronco nostálgico, o lamento: Laguna carnaval e cinzas e as cinzas de seu carnaval...
 
 
 
LAGUNA JÁ TEVE
Nos tempos em que a prefeitura organizava, e patrocinava o Baile Municipal, e o Concurso de Fantasias, Silvério de Jesus, cronista, compositor, e carnavalesco, era o campeão em originalidade. Naquele ano, numa homenagem às rendeiras da Passagem da Barra, Silverinho confeccionou sua fantasia, utilizando somente toalhas de renda. Nunca se viu o Silvério tão feliz, rodeado de Bilros por todos os lados.
 
 
 
FALECIMENTO
A cidade foi surpreendida com a notícia da morte de Eduardo Luiz Schiefler Lopes, o nosso amigo “Piston”. Um infarto violento tirou do “Piston” seu derradeiro sopro de vida. Funcionário da Caixa Econômica Federal, aposentado. Bom papo, defendia, com veemência, suas posições políticas ou esportivas. Flamenguista roxo. Ao lado dos companheiros da Caixa, Lelé, Waldemar, Ziq, Alvinho, Geraldo, Vitor, Kabide, participava de todas as jornadas esportivas e sociais organizadas pela Caixa. Leitor assíduo da minha coluna “Comunidade”. Mesmo com uma diferença de idade de quase vinte anos, ainda participamos de algumas peladas, juntos, por aí, pelos campos da vida. À sua mãe, dona Fanny, à esposa Raquel, aos filhos, Claudia. Andrezza e Luiz Eduardo nossas mais sinceras condolências. Aos irmãos, Fernando, Marilúcia e Mariângela nossos votos de pesar.
 
 
 
NOTÍCIAS DA TERRINHA
 
 
SÍMBOLO 
A cidade está tomada por buracos. A buraqueira é tão grande que alguns vereadores estariam propensos a aprovar uma lei considerando a “Coruja Buraqueira” como a ave símbolo da cidade.
 
 
 
MÃO ABERTA 
Presidente Roberto Alves autoriza aumento de 20% aos funcionários do Legislativo Municipal, e cria o cargo de Diretor Geral. Assessores terão direito a salários de R$ 4.832,26.
 
 
 
REFORMA PARA INGLÊS VER
Quase todos os exonerados pelo prefeito Everaldo já foram readmitidos. Alguns, apenas, trocaram de posto. Eraldo Cardoso é Secretário da Pesca, e o Cará, adjunto de Administração. Lorena Andrade retorna ao comando da Assistência Social. Graziele Duarte – Adjunto de Planejamento enquanto Aline Savi ficou na Fundação do Meio Ambiente.
 
 
 
IRMÃOS CORSOS 
Vereador Kek e engenheiro Antônio dos Santos não se desgrudam. Se um deles dá um espirro, o outro pega a gripe.
 

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