Entrevista da Semana (03/07/10): Dr. Adílcio Cadorin

Entrevista da Semana (03/07/10): Dr. Adílcio Cadorin

 Natural de Urussanga, Dr. Adílcio Cadorin é advogado militante em Laguna há quase três décadas, escritor catarinense, foi prefeito de Laguna (SC) pelo PFL e fundou o movimento “O Sul é o Meu País”. Ele foi o principal articulador do processo judicial que obteve o reconhecimento da nacionalidade brasileira de Anita Garibaldi. Casado com Ivete Scopel é pai de três filhos: Caio, Naira e Lucas. Apesar de ter cursado parte do ensino fundamental na cidade natal, concluiu a faculdade de Direito no Rio Grande do Sul. 

Como atividade profissional já foi advogado, vereador, proprietário de rádio e assessor. Mas seu foco sempre foi a área das atividades comunitárias, políticas, culturais e filantrópicas. Dr. Adílcio se destacou como: fundador e presidente do Rotary Clube de Laguna República Juliana; nomeado em 1995, embaixador da Padânia (Norte da Itália), para o Brasil; Em 1997 foi fundador e primeiro presidente da Fundação Anita Garibaldi. Em outubro de 2000, elegeu-se Prefeito Municipal na cidade de Laguna – SC. Sua eleição foi considerada um marco histórico em Laguna por ter quebrado uma hegemonia política de duas grandes oligarquias. Seu sucesso se deu em função das propostas ousadas e de uma inquebrantável tenacidade para alcançar os objetivos a que se propõe.

Sua paixão pelos livros e pela escrita não foi deixada de lado. Ensaísta e autor de diversos trabalhos literários voltados para a área de história e contra os centralismos governistas. Escreve todos os anos, desde 1999, o roteiro da peça multi-teatral “A Tomada de Laguna”, sendo também diretor da mesma.

 

 

A Crítica - O que o senhor destacaria como a sua grande realização quando prefeito de Laguna?

Dr. Cadorin - Acredito que foram duas obras importantes que conseguimos realizar em Laguna. A primeira foi resgatar a autoestima dos lagunenses, que estava muito baixa, o que foi feito através da valorização da história e do patrimônio imaterial de Laguna, com ações que valorizaram os botos, Anita Garibaldi e o Tratado de Tordesilhas. Ações como a realização da Tomada de Laguna e a divulgação nacional e internacional deste patrimônio imaterial, associada a ações  e convênios com operadoras que captam turistas nos grandes centros populacionais  atraiu um grande fluxo, que alavancou a frequência de turistas na cidade durante todo o ano e não apenas durante o verão, como acontecia anteriormente.  A segunda ação que reputo importante foi a retomada da confiança popular para a realização de parcerias com a iniciativa privada e organizações populares, o que motivou diversas obras de interesse coletivo, das quais destaco a pavimentação de cerca de 15 quilômetros de asfalto no perímetro urbano e mais 65 ruas calçadas, tudo em parceria com a população. Também foram implementadas ações na área da saúde, pois  multiplicamos por 14 o único Posto de Saúde da Família que existia, não deixando nenhuma comunidade do interior sem assistência médica.  Na área social destaco que encontramos pouco mais de uma dezena de clubes de mães e de terceira idade, e ao finalizarmos nosso mandado deixamos funcionando 93 clubes de mulheres, aos quais prestávamos  assistência, fazíamos promoções e dávamos apoio material.  

  

A Crítica - É quase unanimidade que o senhor foi um dos prefeitos mais atuantes, além de ser responsável por tornar Laguna conhecida em outras regiões e países, valorizando muito a Cultura e o Turismo. Por que não conseguiu se reeleger?

Dr. Cadorin - A diferença de votos que não permitiu minha reeleição foi muito pequena e deveu-se  a muitas promessas feitas pelos opositores, que acabaram não sendo cumpridas. Hoje, diariamente, recebo  humildes cidadãos que me procuram desculpando-se por não terem votado em mim, demonstrando-se arrependidos e traídos no voto dado pelas promessas até aqui não cumpridas. 

 

A Crítica – O senhor após não ter logrado êxito na busca da reeleição, se afastou parcialmente da política local. Por quê?

Dr. Cadorin:  Quando sai do meu escritório para ser prefeito,  minha equipe de advogados e funcionários eram de nove pessoas. Quando voltei da prefeitura para meu escritório, a equipe estava reduzida a apenas três profissionais. Hoje estamos em oito. Na mesma proporção perdi o número de empresas a quem prestava serviços jurídicos contínuos. Passados seis anos de minha volta, ainda não recuperei integralmente minha vida profissional.  Durante o período que fui prefeito vendi dois imóveis de minha propriedade para poder manter-me, já que meu salário como prefeito era de apenas R$ 2.800,00 e nunca cogitei de aumentá-lo, porque entendia e continuo entendendo que pelo estado em que se encontrava, Laguna não podia oferecer benesses, mas apenas exigir sacrifícios de seus administradores. 

   

A Crítica - O senhor não tem receio de ser visto como um candidato ultrapassado?

Dr. Cadorin: Não me importo muito como eu seja visto, embora as manifestações que tenho recebido é de que o meu período como prefeito foi o de uma administração moderna e dinâmica. O que importa é que eu tenho consciência de que em termos administrativos  mostrei que Laguna é viável  e que nos meus quatro anos como prefeito superei em muito meu antecessor e meu sucessor, embora esteja seis anos no cargo de prefeito, ainda não me igualou. 

 

A Crítica – O senhor já superou os problemas que houve em relação ao seu governo, e que em dado momento levou até a PF a sua casa? Para o leitor, dá para explicar o que houve na verdade?

Dr. Cadorin: Realmente a  polícia federal esteve em minha casa e não encontrou nada do que continha na denuncia  que os levou até lá. Enquanto prefeito tive uma oposição raivosa, que não saía do gabinete do Ministério Público, fazendo as mais absurdas denuncias diariamente. Devagar e com tempo, utilizando meus conhecimentos profissionais, tenho  conseguido na Justiça demonstrar minha inocência. Embora eu tenha recorrido e não está concluído, até agora conseguiram apenas me condenar por ter usado os botos de Laguna como símbolo da Prefeitura,  sob a alegação de que usei os botos para me promover pessoalmente, chegando ao ridículo de afirmarem que eu me identifico com os botos, o que é um absurdo, pois até onde sei  "não sou nenhum pouco parecido com eles". 

      

A Crítica – Que avaliação o senhor faz do atual governo de Laguna? O senhor tem recebido manifestações públicas? 

Dr. Cadorin: As manifestações que recebo na rua sobre a atual administração não são nada boas, o que é lamentável, pois nós que habitamos em Laguna é que sofremos. No entanto, preciso acreditar que ainda há tempo para o atual prefeito recuperar sua credibilidade, pois estão faltando quase três anos de sua administração (embora já seja prefeito há mais de cinco anos) e ele é do mesmo partido e tem forte relacionamento com o Governo Federal, que se diga, está esbanjando recursos, pois  anistiou mais de um bilhão de dólares de dívidas  que outros países tinham com o Brasil. E quem  dispensa receber seu crédito é porque tem dinheiro de sobra... E se tem dinheiro de sobra, porque não ajudar o município de laguna, governado por correligionário do Presidente ?    

 

A Crítica - No governo de Célio Antônio não existe nenhuma área que se salve?

Dr. Cadorin:  Fico impedido de fazer esta análise, pois tenho estado muito fora da cidade, atendendo meus clientes, cuja maioria são empresas de outros municípios, e quase não tenho tido tempo para ouvir e ler notícias a respeito . 

 

 

A Crítica - O que o senhor faria caso voltasse um dia a comandar a cidade Juliana, e o que não faria?

Dr. Cadorin: Daria ainda mais ênfase ao desenvolvimento cultural e ao turismo receptivo, grande mola propulsora de nossa economia. Procuraria despertar para a pesca turística, o turismo religioso, o turismo de aventura e os esportes náuticos, utilizando o potencial de nosso interior. Também investiria fortemente no asfaltamento de nossas estradas do interior, dando-lhes condições de estruturarem-se para estes tipos de turismo receptivo.  Deixaria de lado muitos dos interesses partidários

 

A Crítica - Qual a visão geral da cidade hoje? Ruas, logradouros públicos, servidores municipais e outros...

Dr. Cadorin: Como não tenho circulado na cidade em virtude de meus compromissos, não posso analisar o estado em que se encontram nossas ruas e estradas do interior, limitado a ouvir algumas queixas a respeito. Posso criticar minha rua, a Costa Carneiro, que há mais de cinco anos tem três reparos a serem feitos no calçamento e que não está recebendo a atenção devida.   

 

A Crítica - O escândalo do atual prefeito, que se envolveu numa acusação de compra de voto, e mantendo-se no cargo por medida extraordinária, pode prejudicar a cidade? Como?

Dr. Cadorin:  Penso que haverá maior prejuízo se neste momento a administração for substituída, pois dois anos é pouco tempo para um novo prefeito formar nova equipe, tomar conhecimento dos projetos existentes, elaborar novos,  ir buscar recursos  e colocá-los em prática. Creio que, neste caso em virtude da demora da decisão judicial sobre o afastamento ou não do atual prefeito, o melhor juiz é a próxima eleição municipal.  

 

A Crítica – Tomada de Laguna, República em Laguna ou “Sem nada em Laguna”. O que dizer? De quem é a culpa pelo esvaziamento do espetáculo?

Dr. Cadorin – Classifico a República em Laguna como um plágio de baixo nível da Tomada de Laguna.  Logo que assumiu o novo prefeito, fui procurá-lo, pois  no período da transição eu não fui procurado para saber dos nossos projetos. Na audiência que me foi concedida cerca de 60 dias após a sua posse, enfatizei que a população cobraria um preço elevado se não fossem tomadas medidas para perenizar a Tomada de Laguna. Não fui ouvido e na sequência o que houve foram ações para descaracterizar o evento, que tinha um forte apelo emocional, valorizando nossa história e promovendo o turismo de inverno. Embora tenham plagiado, o evento mudou de nome, perdeu a emoção e não houve a devida promoção turística. Em substituição o roteiro tentou adotar o deslumbramento, que é típico de carnavalescos, misturando e comprometendo o fato histórico que estávamos valorizando.  

    

A Crítica - O que ainda pode ser feito pela Cultura de Laguna?

Dr. Cadorin –  O Rio Grande do Sul foi gestado pelo sêmen dos lagunistas que germinaram no ventre das índias charruas e minuanas, com forte influência castelhana. A história do Sul do Brasil passa por Laguna e este fato nunca foi devidamente pesquisado e valorizado. Estou com um livro pronto, que se chama Laguna Terra Mater, que aborda o assunto, onde tento resgatar a epopéia das trinta famílias lagunenses que foram os primeiros habitantes europeus do Rio Grande do Sul. Este é apenas um fato histórico ainda não pesquisado  e divulgado. Existem quase uma dezena de outros fatos importantes a serem pesquisados, ainda encobertos pela poeira do esquecimento, como  por exemplo o fato de que milhares de índios foram escravizados e embarcados no porto de Laguna para sustentar a mão de obra das lavouras canavieiras vicentistas, ainda antes de  Domingos de Brito Peixoto chegar a Laguna. Ou ainda o fato de que Laguna já foi uma aldeia de índia habitada por mais de uma centena de espanhóis, a quem se deve o seu nome espanhol de Laguna.

   

A Crítica - O senhor sonha em voltar a disputar a Prefeitura de Laguna?

Dr. Cadorin:  Não tenho mais desejo de candidatar-me a qualquer cargo público e não tenho mais filiação partidária. Embora seja um ser político, não pretendo mais vincular-me partidariamente. 

 

A Crítica – Política em Laguna... Nas conversas com o Senador Raimundo Colombo, qual é a recomendação que ele tem dado ao senhor, nesse sentido?  

Dr. Cadorin: Nos últimos dias recebi  uma ligação informando que o Senador Raimundo Colombo quer falar comigo. Estou no aguardo, pois mantido o atual quadro de coligações no Estado, pretendo votar nele. 

 

 

O tradicionalista Cadorin, com seus dois filhos Lucas e Caio e o neto Marcos 

 

Frase: “Classifico a República em Laguna como um plágio de baixo nível da Tomada de Laguna”