06dez14 - TERESA CRISTINA - 01/09/1884 - 01/09/2014 - 130 ANOS

05/12/2014 11:39
Ela foi titular absoluta no cenário do sul de Santa Catarina, desde final do século 19 até a segunda metade do século passado. Criada e instalada ainda no Império, foi a responsável pelo povoamento e surgimento de inúmeros municípios ao longo de seus, hoje, 164 km, que vão de Lauro Muller até o Porto de Imbituba.  Suas máquinas imponentes, vistosas e poderosas - as carinhosas marias-fumaça - seguiam por um traçado ao longo do qual foram surgindo os povoados, após distritos e mais tarde, muitos dos municípios atuais de nossa região sul.  Em seu percurso, tinha ampla intimidade com lavouras as mais diversas, campos, banhados e atrevida por sua opulência, não se intimidava em adentrar nas cidades que floresciam pelas riquezas de um novo tempo. O Brasil era um país essencialmente agrícola,mas idealizada pela necessidade de explorar o carvão como elemento estratégico, a ferrovia do carvão como era conhecida, também se tornou em instrumento poderoso para a industrialização nacional, principalmente durante a eclosão da segunda Guerra Mundial, pela impossibilidade e/ou dificuldade de importar.  Nesta senda, de expressão estritamente regional, nossa querida e mimada ferrovia passou a contabilizar robusta importância no cenário nacional, pelo projeto de construção da Usina de Volta Redonda, destinada à produção de aço. Voltando, especificamente, ao traçado diário vivenciado pelas locomotivas da ferrovia, que em Tubarão, por exemplo, riscavam o centro da cidade, hoje a Avenida Marcolino Cabral, desfilando rente a prédios como os Clubes 7 de Julho e 29 de Junho, e também por curiosidade, a Casa das Louças, que estava instalada num prédio onde hoje opera a Agência Central do Banco do Brasil. Este registro é totalmente inimaginável para os mais jovens, mas muito presente na retina daqueles que são testemunhas oculares desta belíssima história. Vejam só: as locomotivas da Tereza Cristina, lançando no ar a tradicional fumaça preta de suas caldeiras, desfilando pelo centro de Tubarão, seguindo de Oficinas até a divisa com o hoje município de Capivari de Baixo, em plena Marcolino Cabral onde está situado o Farol Shopping. O município de Capivari de Baixo muito deve a esta ferrovia, pois seu núcleo populacional formou-se e cresceu graças à instalação da Companhia Siderúrgica Nacional no ano de 1941, empresa que tinha na ferrovia a parceira fiel para suas operações, alimentada pelo carvão transportado desde a região carbonífera, seu combustível indispensável.  A Teresa Cristina foi um projeto vitorioso germinado ainda no Brasil Império. Menção especial à competência dos gestores imperiais que, imaginem o Brasil há 130 anos, com todas as dificuldades, principalmente de comunicação que todos podemos avaliar, deslocaram-se até a longínqua Inglaterra para buscar financiamento e recursos técnicos e de engenharia necessários à implantação da ferrovia, e pasmem, construí-la em apenas QUATRO ANOS, vencendo todos os desafios e as limitações da época.  Como começou: a descoberta da existência de carvão no sul catarinense motivou Felisberto Caldeira Brant, Visconde de Barbacena a projetar a construção de uma ferrovia com a finalidade principal de transportar o carvão desde a região carbonífera até um porto no litoral.  Obtendo autorização do governo imperial, viajou para a Inglaterra visando captar recursos junto aos investidores ingleses e que dessem suporte financeiro ao seu projeto. Mediante o sucesso na captação de recursos, contratou a empresa inglesa James Perry & Co, que em 1880 iniciou a construção do que seria hoje a Teresa Cristina, partindo de Imbituba onde construíram um pier metálico de 50m, estendendo-se o seu traçado inicial de 111km, até Lauro Muller, com um pequeno ramal de 7km até Laguna, a principal cidade da região.  Duas obras de maior vulto desafiavam os ingleses: as travessias do Rio Tubarão e a da Lagoa de Santo Antonio (hoje Cabeçudas). Para realizar a travessia da lagoa, foi construída uma ponte metálica de 1.430m, na época a mais extensa da América do Sul, cujos restos ainda permanecem até hoje.  Mas os gestores imperiais foram fantásticos, competentes e laboriosos, conseguindo transpor todas as dificuldades e, em 1 de setembro de 1884, foi inaugurada a linha férrea de bitola métrica. Nascia a The Donna Thereza Christina Railway Company, construída por ingleses (Cia James Perry & Co) e capitais oriundos de investidores também ingleses, empregando 700 homens, entre eles muitos imigrantes italianos. A nova ferrovia entrava em operações utilizando-se de oito locomotivas:duas Hunslet e seis Nasmith Wilson, todas inglesas. Foram todas montadas aqui, já que suas peças vieram de vapor desde suas fábricas na Inglaterra. Posteriormente, foram agregadas a este plantel, outras locomotivas oriundas dos Estados Unidos, Alemanha e Tchecoslováquia. As locomotivas eram operadas por um maquinista, um foguista e um auxiliar, tinham de 19 a 22 metros de extensão, responsáveis por tracionar um comboio de 30 vagões, com capacidade de 30 toneladas/vagão. Gize-se, ainda, que a nova ferrovia além do transporte de carvão, também dedicava-se ao transporte de passageiros, encomendas e de mercadorias, haja visto que não havia malha rodoviária em condições de oferecer serviços de transporte à população. Em 1968, com a expansão e melhoria da malha rodoviária estadual e federal, o transporte de passageiros não mais competia com a velocidade das estradas e sua mobilidade, o que causou a sua extinção. A Ferrovia do Carvão enfrentou momentos difíceis desde sua fundação, o que foi determinante para sofrer alterações nas estruturas de capital e administração da empresa, como podemos elencar abaixo: 
De 1884 a 1902 - domínio inglês; de 1902 a 1910 - a ferrovia passou para o governo federal do Brasil; de 1910 a 1918 - Estrada de Ferro São Paulo a Rio Grande; de 1918 a 1940 - a cargo da Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá - CBCA; de 1940 a 1957 - novamente voltou a pertencer ao Governo Federal do Brasil; de 1957 a 1997 - incorporada a Rede Ferroviária Federal; e de 1997 em diante - privatizada e passou a pertencer ao consórcio empresarial formado pelo Grupo MPE - Eurobanco - e Interfinance, com sede no Rio de Janeiro.
Atualmente, a FERROVIA TEREZA CRISTINA, sua nova razão social, continua com sua sede social em Tubarão/SC, tem como tarefa principal o transporte do carvão de pedra desde as minas das regiões de Criciúma, Urussanga e Siderópolis até o complexo de usinas termoelétricas Jorge Lacerda, da Tractebel, localizadas no Município de Capivari de Baixo. Estão sendo feitos estudos no sentido de que a ferrovia também transporte outras mercadorias como contêineres, pisos cerâmicos (já transportando) e cereais,para tornar este transporte mais econômico, moderno e racional, mas que hoje é feito por rodovia, bem mais oneroso. Como já dito, a centenária Tereza Cristina continua a desempenhar seu importante papel desenvolvimentista com ênfase à elevação social, trazendo incontroversos benefícios ao Estado de Santa Catarina e ao Brasil. Eis um texto rápido sobre a Ferrovia Tereza Cristina, que em 1 de Setembro do corrente ano, completou 130 anos de sua inauguração, detentora de uma história de superação e reconhecidos benefícios econômico-sociais, que chega até os dias de hoje, graças a uma bendita herança do Império à República. Saudemos! 
 
Nelson Machado Fagundes 
Advogado

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