09ago14 - Comunidade (por Munir Soares)

08/08/2014 11:50
O BUSTO E A POMBA
Numa homenagem ao nosso jornal “A Crítica” que completa 19 anos de existência, relembro uma crônica escrita em 2004, neste semanário.
Paulo Carneiro foi um médico que marcou época na história da medicina em terras Juliana. Natural de Ubá, MG, Paulo fixou residência entre nós, e aqui constituiu família. Sua capacidade profissional, seu “olho clínico”, respeito à ética, espírito humanístico e inigualável perícia no manejo do bisturi, foram levando sua fama de clínico e cirurgião, para muito além das fronteiras municipais. Vitorioso, também na política, duas vezes prefeito da Laguna.
Certo dia, amigos resolveram “brozear” sua figura, homenageá-lo com um busto em praça pública. Carneiro, em princípio, foi contra, culto à personalidade não fazia parte de sua filosofia de vida. Os amigos confiavam no prestígio do homem. Antônio Filomeno nomeou-se tesoureiro da campanha de arrecadação de fundos. Sua primeira visita, Cerâmica de Imbituba. Dr. João Rinsa, diretor-proprietário da empresa, foi taxativo:
___ Para o doutor Paulo Carneiro eu banco sozinho!
Paulo não concordou. Somente aceitaria o busto se a comunidade lagunense aderisse ao projeto, de corpo e alma. Dias depois, o senhor Fernandino dos Santos, conhecido político da Caputera (pai do ex-vereador Batista da Lotérica) chegava à casa do médico com meia dúzia de ovos, enrolados num pano.
___ Doutor, presente da dona Margarida, ovos de sua galinha carijó, para vender e, assim, ajudar a pagar o monumento em sua memória.
Dona Margarida era um das mulheres mais pobres da localidade. Diante da singeleza daquele gesto, Paulo Carneiro deu seu aval ao projeto.
Poucos meses depois, com a arrecadação indo de vento em popa, a coisa foi ficando tão fácil, que o tesoureiro Filomeno resmungava arrependido:
___ Se eu soubesse que era esta moleza tinha encomendado uma estátua de corpo inteiro.
O Busto continua na praça Paulo Carneiro, defronte ao Mercado Público. A eterna gratidão de um povo, imortalizada no bronze. 
Virar estátua não isenta herói nenhum das mazelas do dia-a-dia. Já picharam uma frase chula na saia da heroína Anita Garibaldi. Giuseppe passou um carnaval inteiro com colares de havaiana no pescoço. Jerônimo Coelho, fundador de imprensa catarinense, em plena pracinha do Rosário, foi flagrado fumando cigarro suspeito (recentemente seu busto foi “sequestrado” por um bêbado). Nem o busto do venerável padre Manoel João escapou à irreverência das folionas. Numa quarta-feira de Cinzas o sacerdote amanheceu com uma calcinha em sua cabeça. O busto do dr. Paulo Carneiro não foge à regra. Tem sempre um cocô de pomba, maculando sua testa bronzeada. Um observador mais atento afirma que é sempre a mesma ave. Um antigo morador da cidade garante que é vingança.
Antigamente, a mulher após o parto, ficava 40 dias de resguardo, só tomando canja de galinha. Às mulheres carentes, sem galináceos no terreiro, doutor Paulo fornecia pombas. Canjinha de pomba para restabelecer as energias. As aves revigorantes eram fornecidas pelo pombal do filho, Luiz Paulo. Sem controle de natalidade, nascendo um filho por ano, em poucos anos o pombal do Luiz Paulo foi dizimado. A última ave fugiu para o mato. A pomba que anda, de pirraça, atucanando o busto do médico seria uma descendente daquela tal sobrevivente. Esta, talvez seja mais uma das histórias do folclore que envolve a figura marcante do médico Paulo Carneiro.
___ Se você é um dos aposentados, frequentador da praça Paulo Carneiro, e quiser solucionar o mistério, fique atento a tudo que passa, um olho no Busto e, outro, na Pomba.
 
 
 
PEDÁGIO PARA O CÉU
Decretado o fim da “sacolinha”. Bispo Edi Macedo inaugura seu templo faraônico em São Paulo. Onze andares. As pedras da fachada foram importadas de Israel. Novidade no sistema de coletas com o fim das sacolinhas. Para entrar no templo, cada fiel terá que passar por uma catraca. Só entra se pagar, é o chamado “pedágio para o céu”. Pulou a catraca? 
___ Cai no inferno.
 
 
 
ASSOCIAÇÃO DAS VOLUNTÁRIAS “MAMÃE-BEBÊ”
Repete-se o sucesso. Charme e solidariedade no lanche de domingo passado, mais de 450 pessoas, em sua totalidade, mulheres. Um evento de caridade, com recheio de deliciosas tortas. As “meninas” comandadas por Lenira Amboni Nicolazzi e Maria Helena Parente deram um show de atendimento e bom gosto.
Prefeito Everaldo dos Santos marcou presença, aliás, sua excelência fez uma doação generosa, 2 mil reais, para ajudar na compra de uma mesa cirúrgica para a maternidade de nosso hospital. “Mamãe-Bebê” é o anjo da guarda daquela maternidade.
 
 
 
DIVERSOS TONS DE CINZAS
Na peça “Auto da compadecida” de Ariano Suassuna, Chicó, ao ver o amigo João Grilo morto, assim falou: Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença, e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.
___ Como diria o bebum de boteco: ninguém fica pra semente!
Com o crescimento da população, e o consequente aumento do número de óbitos, os cemitérios superlotados já estão recusando clientes. Muita gente já não tem onde cair morta. Enquanto as prefeituras não resolvem os problemas de superlotação nos campos santos, o termo “crematório” começa a fazer parte do papo cotidiano das pessoas. Muitos já demonstram desejo de virar cinza. Nesse contexto é preciso tomar cuidado com o famoso jeitinho brasileiro.
___ Já tem gente querendo cremar a sogra na churrasqueira.
___ Minha sogra é boa pro fogo, costuma dizer o Jairo “Dae” Chede.
Por precaução, dona Zaida, (sogra) evita, aproximar-se da churrasqueira do genro.
Edésio adverte:
___ Cuidado dona Zaida, esta semana o “Dae” encomendou um cento de lenha de Cambuí. Acho que o crematório vai funcionar.
Das cinzas humanas é possível se fazer diamante? 
___ Sim, alguns crematórios já têm tecnologias para isto.
Diamantes são formados nas profundezas da terra e aparecem na superfície por causa de erupções vulcânicas. Diamante é resultante de um processo de imenso calor e pressão. Formado de carbono puro. Um corpo humano cremado produz, em média, uns 2 kg de cinzas, no entanto, bastam uns 500 gramas para se conseguir um diamante autêntico. Minha esposa Salete ficou vivamente interessada. Quer virar diamante depois de morta. Um joia que colocada num pingente seria doada a sua neta Maria Clara. Se os diamantes são eternos, ela ganharia a eternidade.
E se a história terminasse assim:
Na balada o som é alucinante, a dança é frenética e coreográfica. A energia dos jovens no bailado da vida. Alegria e vigor. Subitamente, um grito de angústia obriga a banda a parar.
___ Perdi minha avó, gritava uma moça, desesperada!
___ Uma vovó naquela festa em plena madrugada?
___ Acendam as luzes, procurem a coroa aditivada. 
___ Olhem nos banheiros.
___ Por favor, disse a moça do grito, procurem uma joia num colar, um diamante que foi produzido com as cinzas de minha vó, e eu o perdi. Perdi minha vovozinha.
Apesar da solidariedade e da paciência da galera, a vovó não foi encontrada. Possivelmente, terminou seus dias, no saco de algum aspirador de pó.
 
 
 
Aniversário
Dia 12, terça-feira, minha querida esposa Salete está de aniversário. Nesta jornada de 55 anos juntos só temos a agradecer. Numa data tão importante, faço minhas as palavras da canção de Dolores Duran: “Hoje, quero a rosa mais linda que houver/ E a primeira estrela que vier/ para enfeitar a noite do meu bem. Quero a alegria de um barco voltando/ quero ternura de irmãos se encontrando/ para enfeitar a noite do meu bem”. Que Deus te dê saúde e que mantenha esta energia que faz da tua vida a alegria de todos nós. Beijos e abraços do esposo, filhos, netos, parentes e amigos.
 

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