16nov13 - Comunidade (por Munir Soares)

14/11/2013 14:17
CONSCIÊNCIA NEGRA
A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Irmandade dos pretos, como era conhecida, foi fundada em 1835. Em 1845 já era iniciada a capela do morro do potreiro, atual Rosário. Sem recursos, os pretos, muitos ainda escravos, deram sangue, suor e lágrimas pela construção do seu templo. À noite, após os exaustivos trabalhos na casa de seus senhores, ainda encontravam energia para trabalhar na obra da capela. Apesar de todo sacrifício a igreja nunca ficou inteiramente acabada por dentro. A primeira missa foi oficiada pelo vigário Francisco Vilela, o mesmo que, anos mais tarde iria ser assassinado pelos farrapos.
Até 1888, a capela viveu sua melhor época. A festa da padroeira lembrava rituais africanos, com rei, rainha e vassalos. De sua capela, saíam em procissão, as imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora dos Navegantes. O porto era no centro da cidade e os navios, embandeirados, saudavam sua protetora. A capela, interditada, por segurança, teria sido demolida entre 1937 e 1940. Há divergências entre os historiadores.
A seguir passamos a relatar uma história de fé, devoção, respeito e honestidade. Um fato verídico que resolvemos tirar do esquecimento. Infelizmente, não conseguimos apurar o nome do principal personagem, um cidadão negro, probo e zeloso que era guardião do patrimônio da capela do Rosário, inclusive um cofrezinho de madeira com algumas jóias, colares, cordões de ouro, etc. Uma pequena fortuna, oferta de mãos calejadas. Com a saúde abalada ele procurou o senhor Theotônio Batista, respeitável comerciante de nossa cidade e seu amigo deixando sob sua guarda aquele tesouro. Faleceu algum tempo depois. Fiel à promessa, Theotônio Batista guardou a preciosa encomenda, no maior sigilo. Com o avançar da idade resolveu repassar a responsabilidade da guarda, a alguém mais jovem e, de absoluta confiança. Adelino Waterkemper e esposa Norma foram os escolhidos.
Anos mais tarde, quando a paróquia Santo Antônio dos Anjos estava sob o comando do pároco Antônio Gerônimo Herdt, na década de 70, o casal Waterkemper entregou ao pároco, o cofre com a herança deixada pelos devotos de Nossa Senhora do Rosário onde permanece até os dias atuais. 
Negro, branco, preto ou afro-descendente o que importa é que o nobre gesto daquele homem faz parte da história religiosa da Laguna.
 
 
 
ASSUNTOS DA TERRINHA
 
 
NO REINO DA BABILÔNIA
A expressão francesa “C´est fini” foi aportuguesado para Zéfini, que significa: é o fim/ acabou! Na semana, em entrevista a uma rádio da região, ao responder pergunta sobre a desocupação do mercado público prefeito Everaldo dos Santos teria respondido mais ou menos assim:
___ Já demos todos os prazos possíveis, agora ZÉFINI!!!!
ZÉFINI é o novo bordão em terras da Babilônia. Em contrapartida, Lelé da verdureira, desanimado, num arroubo linguístico, teria dito: “Alea jacta est” isto é, a sorte está lançada/ seja o que Deus quiser.
 
 
 
FRASE DA SEMANA
Zé da Água, especialista em limpeza de quintais, ao passar por mim, com seu carrinho-de-mão lotado, fez o seguinte comentário:
___ A rua tá cheia de mato, se me pagar, eu carpo...
 
 
 
MATO 2 
No centro do jardim Calheiros da Graça falta “margarida,” e haja mato!!!
 
 
 
OPERAÇÃO SACI
Uma das pernas da avenida Marronzinho, toda lajotada, foi entregue ao tráfego. Pista única com mão e contra mão.
 
 
 
INAUGURAÇÃO
Será que alguém ousa anunciar a data da inauguração asfáltica da rodovia que liga a Ponta da Barra ao Camacho? Se não cutucarem, não ficará pronta até o fim do ano.
 
 
 
DOSE DUPLA
Como é sabido, a ex-vereadora Nega ajudou a emplacar dois filhos, na eleição passada. Patrick vereador em Laguna, e Luciano, edil da Pescaria Brava. Esta semana encontrei o Luciano. Estava animado, já pensa lá adiante, de olho na presidência da Câmara.
 
 
 
SDR 
Nazil Bento Junior retorna de férias reassume o comando da 19ª Secretaria Regional e sepulta os boatos sobre mudanças naquele órgão público.
 
 
 
MUDANÇA DE SEXO
Já é possível a mudança de sexo em animais como vaca, jumentas e outras espécies. Manipulando os cromossomos, dois XX pra cá, Y pra lá, a vaquinha, cansada de dar leite, muda de sexo e vira um touro saudável. Resumindo, futuramente você dorme com uma gata e acorda com um gatão tarado.
 
 
 
DO FUNDO BAÚ
Como eu ando muito “santinho” nas últimas semanas, tiro do fundo do baú, a crônica” ROUPA DE MISSA”.
Era sempre com a melhor fatiota que os fiéis passavam faceiros, para participar da missa dominical, talvez porque, também, era depois da missa que aconteciam os namoricos na praça. Para a Igreja Católica faltar à missa aos domingos ou Dia Santo de Guarda, era cometer falta grave. Pecado mortal. Uma nódoa na consciência do cristão, que somente o arrependimento e uma boa confissão poderiam limpar. As mulheres participavam das cerimônias litúrgicas, usando véus cujas cores variavam de acordo com o estado civil de cada uma. Viúvas – véu preto. Casadas: véu cinza. Solteiras, virgens, véus brancos.
O tempo passou. As coisas mudaram...
Tornozelo há muito que deixou de ser “zona erótica”. A revolução dos costumes mudou, radicalmente, a maneira de vestir. Decotes voltaram a serem generosos, opulentos, recheados de silicone. Sutiã, quase virou peça de museu. Pernas à mostra; calcinha deixa de ser peça íntima.
Com a nova moda de calças femininas, até a bunda, desbundou. Primeiro inventaram a “meia-calça” e, agora já temos a calça a meia bunda. Até na Igreja o recato foi pras cucúias. Naquela manhã, o radialista Batista Cruz, católico fervoroso, estava indignado, diante do traje com que algumas pessoas, principalmente turistas, entravam na histórica Matriz de Santo Antônio dos Anjos. O pecado da carne nunca fora exposto com tanta exuberância. Cruz considerava tudo aquilo, um atentado ao pudor e falta de respeito na Casa de Deus. Ele parecia São Miguel, exorcizando o demônio com a lança flamejante da moralidade. “Toda a nudez será castigada”, principalmente num local de orações.
Em certa igreja de uma cidade litorânea, uma bela moça, elegante, de mini-saia e blusa com decote “tomara-que-caia”, numa atitude piedosa, de cabeça baixa, orava contritamente, diante de um dos altares. O sacristão, uma criatura temente a Deus, diante daquela obra prima da natureza, arriscava um pecaminoso olhar de soslaio. Um olho no padre e outro na miss...
Uma senhora, que se não estou enganado, ainda usava véu cinza, surge, vindo dos lados da sacristia. Com a reprovação estampada na face, a digna mulher ajoelha-se ao lado da jovem. Com os lábios trêmulos sussurra alguma coisa ao ouvido da moça. Imediatamente, a garota fica de pé e a encara, demoradamente. Em seguida aponta seu dedo indicador em direção de uma escultura, réplica da estátua de David, de Michelangelo, dizendo em voz alta:
___ E ele, que está com tudo de fora, a senhora também vai pedir que o retirem da igreja?
Na Matriz Santo Antônio dos Anjos, duas imagens, estilo barroco, perturbavam o espírito conservador e recatado da historiadora-mor da Matriz, dona Nail Ulysséa. Nessas imagens do século XVIII, o birrinho barroco do Santo Menino ficava exposto ao público. Existe atentado ao pudor na arte sacra? Desejando evitar que o santo ficasse em seu nicho, exposto à visitação pública, com o seu peruzinho de fora, dona Nail escondeu o pecado com uma tanga de pelo de carneiro.
À luz de velas, a Capela estava praticamente na penumbra. Um cidadão de meia idade, estatura elevada, usando óculos de grau, de joelhos rezava fervorosamente. Passos firmes ecoaram no recinto, a mulher, moderna, vestida nos trinques, roupas da moda ajoelhou-se diante do homem que sequer tirou os olhos do chão. Quando a garota curvou-se para orar, a blusa subiu e a calça desceu mais ainda, deixando à mostra, aquele sulco que divide as duas nádegas. O homem terminou suas orações e, ao erguer a cabeça, seus olhos se abriram e ele viu o espetáculo que nada tinha de barroco... Naquele dia ele deixou de cumprir suas obrigações de um bom cristão. Ao invés de fazer suas oferendas, preferiu ficar de olho – no cofrinho...
 

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