24mar12 - Rio Tubarão espera por soluções contra enchentes

23/03/2012 18:03

 

Hoje, sábado, dia 24/3, a trágica enchente de 1974 completa 38 anos. Mesmo depois de quase quatro décadas, o pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Desastres Naturais da Unisul (Nuped), professor Ismael Medeiros, analisa que a cidade de Tubarão permanece “completamente vulnerável”. Ele diz que “São Pedro tem sido generoso conosco”, em relação à ocorrência de outras tragédias. Para o especialista, nas últimas décadas nenhuma ação efetiva foi realizada na bacia do Rio Tubarão a fim de reduzir os riscos de novas cheias. O último trabalho de redragagem tem quase 30 anos. “O poder público está se omitindo”, avalia Medeiros. Ele complementa, entretanto, dizendo que ações exclusivamente físicas – como a de redragagem do rio – não resolvem todo o problema. Segundo o professor, as condições geográficas do complexo do Rio Tubarão facilitam a ocorrência desse tipo de evento e, não importa o que seja feito, ele pode voltar a acontecer. É preciso, portanto, minimizar o impacto das grandes cheias. “O poder público tem que traçar estratégias que prevejam abrigos para as pessoas atingidas direta ou indiretamente”, pontua. Para ele, “a prefeitura precisa tomar uma atitude urgentemente”. Enquanto isso, uma alternativa para diminuir o impacto das chuvas no Rio Tubarão foi proposta por acadêmicos do curso de Engenharia Civil da Unisul. Raimundo da Rosa e Claudemir Pedroso se interessaram por um projeto do Nuped que propunha a construção de bacias de contenção de água. A ideia dos estudantes foi levantar as áreas onde seria possível instalar essas bacias e provar a eficácia da ação. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “Identificação de áreas da bacia hidrográfica do Rio Tubarão para a implantação de bacias de contenção de cheias” encontrou dez áreas propícias para construir os tanques, entre Tubarão e São Ludgero. São terrenos planos e desocupados, vulneráveis a alagamentos em períodos de chuvas intensas. Segundo o ex-aluno Raimundo da Rosa, as pesquisas tiveram resultados satisfatórios. “As bacias contêm a vazão do rio. Conseguiríamos manter o nível normal por até quatro dias, num período de fortes chuvas”, afirma. O TCC foi realizado no primeiro semestre de 2011 e levou em conta dados do Epagri sobre a intensidade das chuvas entre os anos 2000 e 2010. O biólogo e coordenador do Laboratório de Ciências Marinhas da Unisul, professor Sérgio Netto, no entanto, acredita que medidas como essa precisam ser tomadas com muito cuidado. “Elas (as bacias) devem ser usadas de forma racional e eventual”, argumenta sob o ponto de vista da preservação ambiental. Segundo ele, muitas vezes a agricultura e a pecuária desvirtuam a finalidade das bacias. “Fazer das bacias uma canalização é muito perigoso para o rio. Ele perde água e, no caso do Rio Tubarão, pode salgar”. De acordo com Netto, que coordena um projeto de mapeamento do Rio Tubarão, sob o ponto de vista ambiental, “é muito mais interessante racionalizar a utilização marginal do rio”. Ele defende que a mata ciliar seja recomposta. “O desmatamento provoca erosão e, com isso, o rio fica mais raso e enche mais rápido”, explica. O professor também propõe a execução de um projeto de contingência. “A comunicação tem que ser rápida. A gente não pode ter medo de alarmar as pessoas. É muito melhor superestimar uma desgraça que subestimá-la”, avalia. No mês de fevereiro deste ano, o Núcleo de Pesquisa em Desastres Naturais da Unisul firmou uma intenção de parceira com a Defesa Civil de Tubarão. A ideia é que o Nuped atenda às necessidades de pesquisa do órgão. “O Nuped está disposto a ajudar no que for possível. Agora, estamos à espera da Defesa Civil”, diz o professor Ismael Medeiros. Contudo, todas as conclusões relevantes a que o núcleo chegou desde a sua criação – há três anos – foram repassadas ao poder público. Uma delas, segundo Medeiros, é preocupante. “Tubarão está crescendo desordenadamente. E para o lado errado”, declara. Embora sejam preliminares, os mapas de vulnerabilidade feitos pelo núcleo revelam uma nova preocupação: “Se nada for feito, entre cinco e dez anos, vamos ter sérios problemas de deslizamento”, afirma o professor.
Enchente de 1974 completa 38 anos, mas os problemas do Rio Tubarão continuam os mesmos 
 

—————

Voltar