30jul11 - Comunidade (por Munir Soares)

29/07/2011 17:14

 UM CENÁRIO DE MAGIA

A Laguna, mesmo com todo o seu potencial turístico, não poderia sobreviver, com o fluxo de visitantes, apenas, durante a temporada de verão. Temos que “criar” uma atração capaz de trazer visitantes durante o inverno, principalmente, no mês de julho, aniversário da cidade e data da proclamação da República Juliana, diziam todos. Décadas e décadas se passaram, sem grandes novidades.

Um dia, o dedo do destino reuniu Jairo Barcelos e Adilson Cadorin. O gênio criativo do teatrólogo, aliado ao apoio de um prefeito visionário, nasceu a “Tomada da Laguna”. Um espetáculo emocionante, montado ao ar livre, num cenário inigualável, inimitável, as Docas do Centro Histórico. Já, na primeira apresentação, conquistou o público. Finalmente, tínhamos o tão esperado evento turístico de inverno. Pacotes turísticos já eram fechados, com bastante antecedência. A movimentação das embarcações, dentro e fora das docas, a batalha naval, os efeitos especiais, o ataque dos lanceiros, tudo bem próximo a plateia, extasiada, emocionada, vibrante, participativa. Aos nossos pés, desenrolava-se toda uma maravilhosa epopéia, uma saga guerreira, que transformou a nossa Aninha, em Anita Garibaldi, a heroína de dois mundos. 

 

A criação, a direção, os atores, profissionais ou amadores encarnavam, com competência, o espírito daquele momento único, tornar-se personagem da história de sua terra.

Momentos marcantes: além da batalha naval e a ação da cavalaria, a cavalgada dos farrapos pelas ruas da cidade até a praça da Câmara, ganhava apoio e participação popular. A trilha sonora dava ao espetáculo, um toque de magia. Acenando lenços e batendo palmas a multidão dava adeus ao casal Anita e Garibaldi que, de barco, dava início a hipotética viagem de despedida. Sensacional. 

Subitamente, como num conto de fadas, tudo mudou. Cadorin deixou o governo do município, a “Tomada” mudou de nome, para “República em Laguna” e as docas, que pena, perderam o status de cenário do grande evento teatral e turístico. POR QUÊ? Disseram alguns, que o cenário montado naquele local, atrapalhava o tráfego de veículos, prejudicando a movimento no comércio local. Outra versão: a arquibancada estaria montada muito próxima dos fios de alta tensão, da Celesc. Não acredito em nenhuma dessas versões e lamento a mudança. A foto da “praça de guerra” montada nas docas ficou emoldurando os corredores do Farol Shopping de Tubarão, durante muito tempo.

Problemas com a captação de recursos que obrigaram a transferência da montagem da peça, para novembro, nas dependências do Porto Pesqueiro, sepulta, pelo menos, por enquanto, nossa atração turística de inverno, tão magistralmente conquistada. 

 

O VIRUS DO IPIRANGA

Tivemos o “mensalão do PT”, do DEM, de Brasília, dinheiro na cueca, compra e venda de dossiê, propinas, tráfico de influência, etc. O Ministério dos Transportes cai de podre. Escândalos na Casa Civil e até um casal de ministros estaria sendo acusado de facilitar obras em Maringá. É a corrupção institucionalizada. Políticos e empreiteiras seriam os transmissores desse vírus que assola o país. Mas, de onde vem esta gente? Eles são gerados numa encubadeira chamada “partido político” e o povo, ingênuo, acaba contagiado pela febre partidária e facilita a proliferação da doença. Não existirá vacina contra o vírus do Ipiranga causador da febre da corrupção?

___ Sim, a Educação, porém da maneira como o professor é tratado, a sociedade brasileira vai custar a ficar curada.

 

LARANJADA EM LAGUNA

 

Fundo Social

Entidades que receberam dinheiro público, para fins sociais vão ter que devolver dinheiro. De Laguna, entidades, algumas desconhecidas na cidade, terão que devolver à Secretaria da Fazenda Estadual, três milhões e duzentos mil reais. Muita grana! Na região da AMUREL, Laguna foi quem mais faturou. Quem são os dirigentes dessas entidades e quais foram os deputados que “patrocinaram” tais regalos? 

“cadê o tutu que estava aqui”? 

___ O gato comeu...

 

CRECHE DA BARBACENA 

Enquanto boa parte desse dinheiro deve ter escorrido pelo ralo da sacanagem, a Irmã Maria, vai catando dinheirinho para construir a Creche/Escola para atendimento às crianças e adultos, moradores do loteamento dos Sem Terra, na Barbacena. Ela já conseguiu o terreno e algum material de construção. Prioridade agora? Dinheiro para a mão de obra, Como é difícil conseguir verba pública para uma obra, realmente, com Fundo Social.

 

NA RESERVA

Com o filho ao lado, ela permanece o dia todo, na calçada do centro histórico, vendendo artesanato. Nas noites frias de inverno recolhem-se para dormir num cantinho da rodoviária, sem comida, sem cobertas, tendo como colchão, pedaços de papelão. Segundo informações, são indígenas de uma comunidade do interior de Imarui. A vida que estão levando aqui, como indigentes, será melhor do que viver na reserva? Com a palavra nossas autoridades.

 

“BOCA DE SIRI” 

– o repórter informa e pergunta:

___ BR SC Barra/ Camacho: - Continua a enrolação.

___ Começa a revitalização da orla da praia do Mar-Grosso.

___ E as obras do esgoto sanitário, quando serão iniciadas?

Logo depois da iluminação subterrânea do centro histórico?

 

AS POMBAS DA MARIQUINHA

Uma cidade que não tem seus tipos folclóricos, é uma cidade sem alma. São criaturas simples, sem traumas,desinibidas, autênticas,sem maldades. Assim também era Mariquinhas. Mariquinhas das pombas. O pombal era seu meio de vida. Era comum vê-la com as aves sob o braço, oferecendo o produto nos mais diversos lugares. Tinha pomba para todas as ocasiões: Primeira Comunhão – a pureza das pombas brancas. Dia dos Namorados – Pombo Correio. Bodas de ouro? Uma réplica da pomba da Arca de Noé. Ave de quarentena. Quarenta dias e quarenta noites, trancada, sem “matar o bicho”.

Mariquinhas não podia se queixar da vida. O negócio ia bem. Seu melhor freguês era o Tião da Candinha. Toda semana ele comprava uma dúzia. O que fazia com elas Mariquinhas não queria nem saber. O pombal ia de vento em popa. Chegaram tempos difíceis. O “país do milagre” que só ia “pra frente” na base da topada e do dinheiro dos especuladores acordou em meio a um pesadelo, inflação galopante. Tião da Candinha, desempregado, sem FGTS passou a viver de caridade. Mariquinhas foi quem lhe mitigou a fome, com caldo de pombinha, canja, passarinhada, etc.

Felizmente não há mal que sempre dure. Certa manhã, Tião chega com um casal de pombas brancas. 

___ Mariquinhas, cuide bem delas. Quando eu retornar, espero poder recompensar-te. Tião sumiu. Graças a um “pistolão” político foi nomeado para um cargo público, sem concurso. Anos depois retornou à terrinha, como comissionado, à disposição, de ninguém. Os amigos, com quem outrora ele dividia suas pombas, tornaram-se eleitores fiéis. Elegeu-se prefeito. Era homem importante agora. O poder, como uma força maléfica, aos poucos foi transformando a alma do Tião. Jamais voltou a procurar a Mariquinhas das pombas, nem mesmo demonstrou piedade ao sabe que ela residia num barraco, no bairro mais pobre da cidade. Ele era uma autoridade e o povão, nada mais que um “elemento votante”.

Dia importante para o prefeito Tião. Dia do padroeiro do bairro. Missa, barraquinha, pinhão e foguete. Mariquinhas escolheu seu melhor trapo, banhou-se em água de cheiro, passou carmim na esquálida face e rumou para a igreja. Bem cedinho. Conseguiu um bom lugar. Sentou-se e aguardou. O “seo” vigário, com voz solene convidou:

___ Digníssimo prefeito Municipal, tenha a bondade de sentar-se aqui, ao lado do altar.

Com gestos marciais, como um general passando a tropa em revista, Tião caminhou solenemente pelo corredor central. Mariquinhas quase desmaiou de emoção, o coração batendo em descompasso. Instintivamente, ergueu-se e gritou feliz:

___ Tião, Tião, não me reconheces, sou eu, a Mariquinhas!

O prefeito, envergonhado, fingindo nada ouvir, tentou continuar sua marcha triunfal. Mariquinhas percebeu a manobra, sentiu a ingratidão. Com raiva saltou para o corredor, berrando:

___ Então é assim, Tião prefeito, não queres mais saber da minha pomba. Tens vergonha do teu passado...

O clima ficou constrangedor. O riso das beatas transformou-se numa ladainha cômica. A um sinal do padre, o coral, traído pelo subconsciente, sapecou, em quatro vozes, o “profaníssimo” ...” a minha pombinha branca/ fugiu do ninho/ ai como eu sinto falta/ do seu carinho...

Durante muito tempo não se falou em outra coisa. Tião nunca mais conseguir se eleger para cargo nenhum mais passou à história com o nome de “Tião Pombinha”. Você deve conhecer alguns desses tipos, aí, na sua cidade. Mariquinhas neles...

 

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