31maio14 - Orleans: Arcângelo confirma que abastecia seu carro na conta da Prefeitura

30/05/2014 14:37
Revelações e confirmações marcaram a visita do ex-secretário de Finanças da prefeitura municipal de Orleans, Arcângelo Librelato, na sessão ordinária da última segunda-feira (26). Ele foi sabatinado pelos vereadores, inclusive de situação. Confirmou entre outras coisas que abastecia gasolina em seu carro particular e debitava na conta da Prefeitura. 
 
 
 
Osvaldo Cruzetta: No tempo que o senhor era coordenador de governo, houve uma anulação de licitação. Quais foram os motivos para tal, já que segundo o prefeito, houve um superfaturamento nessa licitação? 
Dr. Arcângelo: No início eu era coordenador geral de governo, esse cargo não tinha nenhuma influência sobre qualquer licitação, sobre compras, sobre absolutamente nada daquilo que era de despesas. Essa licitação foi anulada e foi feita uma nova licitação. Mas eu desconhecia essa situação. Aí fui saber o porquê não se comprava esse equipamento embora a licitação já tivesse sido feita e era só comprar. Descobri que tinha um bloqueio deste recurso na Caixa porque a prefeitura era devedora de FGTS. Eu me envolvi nisso, fui a Florianópolis umas duas ou três vezes, para tentar desbloquear esses recursos. Chegando lá a prefeitura tinha uma dívida de R$ 170 mil discutindo na justiça, R$ 100 mil a prefeitura já teria sido isenta, R$ 70 mil a prefeitura estava discutindo porque eram referentes ao FGTS dos servidores efetivos. Se a prefeitura não pagasse esse valor não conseguiria recuperar essa emenda de quase R$ 700 mil. Aí voltei para cá e disse para o prefeito e para o jurídico: Gente, temos R$ 700 mil para receber, é muito mais fácil nós pagarmos o R$ 70 mil do FGTS, e pegarmos os R$ 700 mil e comprarmos equipamentos e depois vamos tentar reaver esse R$ 70 mil. Pensei que a coisa tivesse sido resolvida. Depois soube que não. Peguei o gerente aqui da Caixa local, fomos a Criciúma na gerência regional, e depois fomos a Florianópolis. Chegamos lá, foi dado o encaminhamento e mais ou menos umas três semanas depois foi resolvido o problema, e a prefeitura já poderia comprar o equipamento. Qual foi a minha surpresa? Depois de um tempo, o dono da empresa responsável pela máquina me liga dizendo que tiveram algumas pessoas lá o ameaçando de suspender a licitação porque o equipamento estava superfaturado. Isso foi numa sexta-feira, na segunda eu estava indo para São Paulo para o tratamento do meu irmão Lussa. Então, chamei duas pessoas ligadas ao governo e disse que não se podia fazer aquilo, que era arriscado. Depois de alguns dias soube que tinham anulado a licitação. Daí a prefeitura fez uma nova licitação e pelo que eu sei até hoje os equipamentos não vieram ainda. Fiquei sabendo através da imprensa que o prefeito disse que era superfaturado. 
 
 
 
Mário Coan: Qual o nome do dono dessa empresa que tinha negociado a primeira licitação?
Dr. Arcângelo: Conheço ele por Ciro da New Holland.
 
 
 
Mário Coan: Quem eram as pessoas que foram falar com ele para negociar alguma coisa?
Dr. Arcângelo: O Ciro já foi no Fórum e disse quem são as pessoas, mas eu quero me reservar ao direito de não dizer. 
 
 
 
Mário Coan: São da administração? E existia mesmo superfaturamento na compra dessa máquina?   
Dr. Arcângelo: Eu desconheço Mário, na verdade eu não fui atrás de valores, o meu trabalho foi resolver a situação da prefeitura perante a Caixa, que estava inadimplente com o FGTS, e nisso me empenhei. Se estava ou não superfaturado eu desconheço. Não sei quem fez a licitação, desconheço o objeto, não nomeei ninguém, as pessoas da comissão de licitação não eram subordinadas a mim, embora eu fosse Secretário de Finanças. Eu fui exonerado do meu cargo de Coordenador de Governo e fui nomeado Secretário de Finanças, mas as pessoas foram nomeadas pelo Secretário de Administração. Eu sei que tentaram envolver o meu nome no possível superfaturamento. Mas estou com a consciência limpa, livre. Meu trabalho foi recuperar o crédito da prefeitura para poder pegar esses R$ 700 mil que estavam lá e trazer para cá para comprar esses dois equipamentos. 
 
 
 
Valter Orbem: O senhor disse que participou efetivamente na liberação dos recursos, o proprietário da empresa, o Ciro, ligou para o senhor informando o que estava acontecendo. Só para esclarecer, porque o proprietário ligou para o senhor?  O senhor tem alguma amizade com ele? 
Dr. Arcângelo: Porque por duas ou três vezes ele já tinha ligado perguntando se a prefeitura sabia que eu estava ali. Já tinha ligado para saber se a prefeitura ia comprar ou não. Conversamos por duas ou três oportunidades e quando aconteceu isso eu acho que nada mais natural que ele ligasse para mim.  
 
 
 
Dão: O senhor fez uma denúncia já, no Gaeco, estou preocupado, fiquei 30 dias no governo, vi muita coisa, quero esperar para falar mais depois que o Gaeco fizer a investigação. Não sei se daqui a pouco não vai sobrar alguma coisa até para mim, e o senhor como denunciante, o senhor se preocupa, afinal sua esposa estava na secretaria de Saúde, qual é a sua preocupação com relação a isso?    
Dr. Arcângelo: Em nenhum momento eu perdi o meu tempo ou vou perder o meu tempo em fazer qualquer denúncia na Promotoria Pública. Fui chamado ao Fórum, estou sendo investigado como tantas outras pessoas. Duvido que algum dia eu possa ser condenado pelo desvio de R$ 1,00 de recurso público. Eu nunca fiz uma denúncia, só que quando chego lá para ser investigado, me aparece um contrato assinado pela minha mulher que era Secretária da Saúde, e eu tenho um contrato de prestação de serviço com a secretaria para prestar serviço de pediatra no meu consultório particular. Eu atendo por mês 8, 10, 20 ou 30 crianças, apresento a conta e recebo R$ 50,00 cada consulta. E eles me apresentaram uma cópia desse contrato assinado em 2012. Na hora eu fiquei surpreso. É óbvio que alguém da secretaria mandou para lá. Só que eu presto serviço para secretaria de Saúde desde 2008, quando a Dona Ângela Bratti, era Secretária da Saúde, então esse contrato não foi assinado em 2012, ele foi assinado em 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012. Sinal que eu não estava sendo beneficiado porque a minha esposa estava na secretaria de Saúde, e essa então foi à primeira acusação. A segunda, uma licitação de medicamentos e material médico hospitalar de qualidade que foi suspensa antes de acontecer. O prefeito determinou esse cancelamento na troca de secretária. Saiu a minha esposa e entrou a Dona Hirânia, que suspendeu a licitação. Existia um orçamento, uma licitação prevista de R$ 220 mil, em pregão. Mas foi anulada antes de acontecer o pregão. Foi feita uma nova licitação e daquele R$ 220 mil acabaram comprando por R$ 140 mil ou R$ 150 mil, quase R$ 100 mil a menos, e ficaram insinuando que o Dr. Arcângelo levaria toda essa vantagem, toda essa diferença de dinheiro antes da licitação acontecer. Terceira coisa que também estou sendo investigado, abastecimento algumas vezes do meu carro na conta da prefeitura. Sim, algumas vezes eu abastecia, afinal em quase um ano que estive na prefeitura, eu não ganhei uma diária da prefeitura e nunca usei um carro oficial, sempre usei meu carro para ir a Criciúma, Florianópolis... Quantas vezes fui a Florianópolis para resolver a questão do FGTS? Então algumas vezes eu abasteci o meu carro na conta da prefeitura, é errado? É... então eu posso ser condenado por isso. A quarta coisa que me denunciaram é que eu não cumpria o horário de trabalho. Ora... eu chegava lá, estava cheio, não tinha lugar para sentar, eu ia embora, mas eu sempre trabalhava em casa, o meu planejamento da prefeitura eu sempre fazia tarde da noite. Até convidei o promotor e a promotora para que se quisessem ir lá em casa ver os meus emails que eu mandava meia noite, uma hora da madrugada. Então por essas coisas eu até posso ser condenado, agora por desvio de recurso em nenhum momento, eu não tenho a menor preocupação que eu possa ser condenado por isso. 
 
 
 
Osvaldo Cruzetta: Você ainda presta serviço na secretaria de Saúde?
Dr. Arcângelo: Apesar de todos os dias dizerem que querem contratar um pediatra novo, quando os pepinos aparecem, sempre sobra para o Dr. Arcângelo. A minha colega Dra. Gislaine, foi ignorada, embora ela atendesse todos os dias lá no postinho de saúde, até hoje ela não foi convidada para continuar atendendo, e é uma excelente profissional. Eu de cada 8 crianças que atendo, 5 levam a ficha, essa que eu preencho, algumas recebo, outras não, mas deixa pra lá. Eu acho que ganhei bastante na vida como pediatra, não preciso mais disso, acho que isso é a minha obra social. 
 
 
 
Osvaldo Cruzetta: Então hoje tem outra pessoa contratada?
Dr. Arcângelo: Não existe ninguém.
 
 
 
Osvaldo Cruzetta: Sobre o transporte escolar, eu estranho que na época que o Valmir era prefeito o transporte escolar no nosso município pagava R$ 60 mil/mês, e hoje está em torno de R$ 120mil/mês. O senhor participou também dessa licitação do transporte escolar do nosso município?
Dr. Arcângelo: De valores eu desconheço. Para quem lembra a minha posse não ocorreu no início do mandato, pois eu tinha exigido a revisão de todos os contratos dos prestadores de serviço. Por isso, a posse foi postergada em um mês, e na época o meu irmão (Lussa) já estava com problemas de saúde. Inclusive no dia da minha posse, das pessoas ligadas ao prefeito, ninguém compareceu. No dia eu tomei posse em consideração ao meu irmão que estava lá, mas não estava bem e eu não fui embora por ele (Lussa). Mas, não era para ter tomado posse.  
 
 
 
Osvaldo Cruzetta: Hoje vocês não fazem mais parte do governo, nem você, nem ninguém da sua família, mas durante a campanha pregou-se que vocês estariam presentes na administração.  Então eu pergunto, não seria importante que vocês, que hoje tem uma das maiores empresas do nosso município, estivessem juntos no governo para cumprirem com o compromisso que assumiram perante a nossa sociedade?
Dr. Arcângelo: Com relação à empresa, agradeço, mas isso não tem nada haver com a política, se tu me perguntasses se eu estou frustrado por não estar participando do governo, eu posso dizer que muitas vezes eu perco o sono por causa disso, em consideração a muitas pessoas. Mas, estou muito frustrado. Eu fiz um planejamento, eu me preparei para isso, me aposentei do INSS perdendo 40% do meu salário para me preparar para administrar, esse era um compromisso. Mas se tu me perguntar se ele (governo) está indo como eu imaginava, aquilo que o Lussa queria, eu vou dizer que não, é completamente diferente daquilo que imaginávamos.

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