Entrevista 17/04/10: Gelson Luiz Padilha - Secretário de Desenvolvimento Regional de Braço do Norte

Entrevista 17/04/10: Gelson Luiz Padilha - Secretário de Desenvolvimento Regional de Braço do Norte

Técnico agrícola de formação. Foi para Orleans em 1980 para trabalhar como extensionista rural na ACARESC, hoje EPAGRI, com juventude rural – clubes 4-S, onde saiu esponteamente em 1985, para trabalhar como autônomo. Foi convidado para fazer um programa sertanejo no rádio e em seguida iniciou no jornalismo, onde permaneceu por mais de 10 anos. Na prefeitura de Orleans assumiu o departamento de agricultura do município, na época do então prefeito, Luiz Crocetta. Entrou na política, elegendo-se duas vezes vereador pelo PMDB, em 1988 e 1992.  Em 1996, já no PSDB enfrentou sua primeira eleição para prefeito, com chapa pura, perdeu por pouco mais de 600 votos. Em 1998, outro desafio, candidato a deputado estadual; conseguiu 10.081 votos, faltaram apenas 2400 votos para conquistar uma cadeira na assembléia legislativa. Em 2000, chegou à prefeitura de Orleans, vencendo a eleição com mais de 300 votos de diferença. Em 2005 foi diretor geral da SDR de Tubarão e em 2007 com a criação da SDR Braço do Norte, assumiu como Secretário Regional da nova SDR.

 

A Crítica - Como profissional de rádio em Santa Catarina, você foi somando linhas e vozes para a política. Como foi essa trajetória?
Padilha - * Sou técnico agrícola de formação. Vim para Orleans em 1980 para trabalhar como extensionista rural na ACARESC, hoje EPAGRI, com juventude rural – clubes 4-S. Durante cinco anos organizei 12 comunidades rurais, trabalhando dia e noite inclusive nos finais de semana. Hoje Orleans é o único município do Estado que ainda existem clubes 4S, através do comitê dos clubes; sinal que a semente foi bem plantada.
* Quanto minha trajetória no rádio, comecei também na ACARESC, fazendo um programa semanal para agricultores, fui convidado para fazer um programa sertanejo em seguida já iniciei no jornalismo, onde permaneci por mais de 10 anos. Gosto do rádio, quando puder estarei voltando. Hoje não dá para conciliar com o cargo que ocupei até poucos dias.
* Não nego que o rádio ajudou muito na minha vida política, facilita o contato com as pessoas, dá visibilidade, mas é bom lembrar; só o rádio não elege ninguém, é um somatório de fatores, especialmente a doação ao trabalho, à comunidade e suas atitudes no dia a dia como ser humano e profissional.

 

 

 

 

A Crítica - Um dia resolveu ir para a política partidária. Que houve? Pois você manifestava que jamais entraria nessa competição?
Padilha - Saí espontaneamente da ACARESC em 1985, para trabalhar como autônomo. Com o convite do então prefeito Luiz Crocetta, para que eu assumisse o departamento de agricultura do município, acabei trabalhando na prefeitura de Orleans. Com isso fiquei ainda mais próximo da população e em contato com o povo. Percebi então que somente participando da política podemos contribuir para que as coisas mudem. Temos a obrigação de fazer cada um, sua parte. Resolvi então entrar na política, me elegendo duas vezes vereador pelo PMDB, em 1988 e 1992.  Em 1996, já no PSDB enfrentei minha primeira eleição para prefeito, com chapa pura, tendo o hoje vereador Mario Coan como vice. Fizemos bonito, perdemos por pouco mais de 600 votos, enfrentando todos demais partidos reunidos. Em 1998, outro desafio, candidato a deputado estadual; consegui 10.081 votos, faltaram apenas 2400 votos para conquistar uma cadeira na assembléia legislativa. Em 2000, chegamos à prefeitura, vencemos a eleição com mais de 300 votos de diferença e conseguimos, apesar das pressões recebidas, em três anos de mandato, fazer muito mais do que outros que tiveram mais tempo e mais apoio; não tenho dúvida, deixamos nossa marca, fazendo obras e ações e realizando a administração mais transparente de todos os tempos. Na época, o povo sabia de onde vinha e onde foi aplicado o seu dinheiro. Depois, em 2005 fui diretor geral da SDR de Tubarão e em 2007 com a criação da SDR Braço do Norte, assumi o comando com muita responsabilidade, onde conseguimos realizar um grande trabalho. É o que o povo diz.

 

A Crítica - Você teve vários parceiros. Mas na hora H,  alguns falharam. O que houve?
Padilha - Na política tem de tudo, nem todos que você espera contar, na hora do pega tem coragem de enfrentar. O importante é você saber quem esteve contigo e poder reconhecer quem verdadeiramente te ajudou, sem esquecer a missão de administrar bem e não discriminar. Penso que consegui, na medida do possível, retribui quem me ajudou.

 

A Crítica - Prefeito eleito. Missão cumprida. Ai vem a verdade. Você fez muito pela Orleans. E muitos de seus parceiros, digo, da coligação parece que não gostaram, ou não foram beneficiados com cargos; Isso prejudicou inicio da administração?
Padilha - Nos dois primeiros anos de administração, sempre tivemos mais de 75 % de aprovação nas pesquisas (tenho elas comigo), isso reflete que até aí todos ou quase todos puxavam pra frente. Porém no terceiro ano, com a possibilidade da cassação e com a proximidade da próxima eleição, as coisas mudaram um pouco, alguns se afastaram, outros trabalharam nos bastidores pelo quanto pior melhor. As ambições pessoais começaram aflorar e o terceiro ano de administração foi o mais difícil politicamente falando. Aí veio o pior em dezembro de 2003, a cassação. O afastamento foi imediato, não tive tempo nem de fechar as contas do ano e meus sucessores foram muito ingratos comigo, fazendo rejeitar contas de 2003 e denunciando aos tribunais para me prejudicar.

 

A Crítica - Embora houvesse muita vontade, parece que o PMDB não se acostumou com a ideia de ser seu vice. Quando começaram a surgir os problemas na administração, eles saíram de cena?
Padilha - O PMDB na minha avaliação foi um bom parceiro, especialmente o meu vice-prefeito, Dr. Marco Cascaes. Porém a recíproca também é verdadeira, pois ele foi o vice mais valorizado da história de Orleans, nunca deixei uma placa sem o seu nome, nos meus discursos sempre o citei, o preparei para ser meu sucessor, como havíamos combinado. Nem todos do PMDB agiram assim, tinha gente pensando que eu iria bater o pé pela reeleição, por isso talvez alguns puxaram pra trás e até agiram contra no momento oportuno, mas isso não me magoa.

 

A Crítica - Você estava inaugurando obras. Como a Casa do Idoso e entregando casas populares. Por trás, a oposição te cassava. Como foi viver esse momento?
Foi o pior momento de todos estes 22 anos de vida pública. A cassação. Um processo esdrúxulo, sem nenhuma prova contra mim, acabei pagando pelo que não fiz. Nunca comprei voto na minha vida. Fui injustiçado. Isso eu não desejo pra ninguém, nem para meu maior inimigo, se é que ele existe, pois não tenho inimigos. Minha esposa, grávida de 6 meses de nossa 2ª filha a Clarinha, era minha maior preocupação naquele momento. Foguetes, bandalheiras, músicas provocantes em frente a minha casa, tudo isso nós suportamos nos dias que sucederam o meu afastamento. Mas isso já passou, graças a Deus não guardo rancor, perdôo todos os malfeitores que agiam a pedido de outros.
Durante todos os meus três anos de administração sempre recomendei aos meus assessores que se concentrassem no trabalho e esquecessem o processo de cassação, apesar das pressões que vinham das ruas, conseguimos trabalhar bem, especialmente para os mais carentes e os agricultores.
 
A Crítica - Depois de cassado, o nomeado ou eleito pela maioria que já era da oposição, jamais conseguiram provar qualquer coisa que desabonasse sua conduta. Fale disso.
Padilha - Várias foram as tentativas para me prejudicar, denúncias, devassa em setores da administração 2001/2003, demissão de funcionários concursados, processos para devolução de dinheiro a prefeitura por ter pagado horas extras e gratificações a funcionários. Práticas que todos os meus antecessores fizeram, enfim, foi a cassa às bruxas. Ódio sem precedentes. Penso que eles estão pagando um pouco do que me fizeram, é incrível o que acontece no momento na política em Orleans. Todo o bem ou mal que me fazem coloco nas mãos de DEUS, ele é o maior e melhor juiz.
 
A Crítica - Deixar o governo como eleito pelo povo. Como é sentir isso?
Padilha - Deixar o governo quando eleito pelo povo, antes do prazo, como foi meu caso, por motivo mesquinho, sem nenhuma culpa, é algo indescritível e inaceitável. Só o tempo consegue apagar o sentimento de indignação pela maldade que me fizeram. Já se passaram 6 anos, quero esquecer o passado e pensar no presente e principalmente, no futuro.

 

A Crítica - Depois de tudo, o reconhecimento pelo seu trabalho  levou você para a SDR. Como foi essa experiência e o que de bom conseguiu trazer para a sua região?
Padilha - Depois da tempestade veio realmente o bom tempo, a calmaria e o reconhecimento daqueles que nem sequer me conheciam direito, num primeiro momento em Tubarão em 2005 e em 2007 como secretário regional em Braço do Norte. Agradeço especialmente o meu partido o PSDB e os governadores Luiz Henrique e Leonel Pavan, que me deram esta oportunidade de ocupar uma secretaria de Estado. Quanto ao trabalho, eu sou suspeito em me auto -avaliar, porém o que ouvimos da população é só pontos positivos. Em pouco tempo em Braço do Norte, conseguimos impulsionar o desenvolvimento da região, fazendo estradas, melhorando a energia elétrica, realizando parcerias com os municípios, entidades e associações. Dos 97 milhões investidos pelo governo do Estado nos nossos sete municípios, nos últimos sete anos, quase 70 milhões chegaram após a criação da SDR, de 2007 até hoje. Isso é o efeito da Descentralização e do trabalho sério com apoio de todos sem exceção.
 
A Crítica - No esteio de toda sua caminhada sempre ao seu lado esteve sua família. Hoje sua esposa é vereadora e combativa na Câmara de Orleans.  Como tratam a política em casa?
Padilha - Sem dúvida, minha família é o meu maior tesouro. Minhas filhas maravilhosas a Carol que tem 20 anos e está cursando medicina e a pequena Ana Clara que está com apenas 6 anos e já está estudando também, nossas relíquias. Quanto a Léla é uma guerreira, mulher forte, destemida, está fazendo um grande trabalho como vereadora, será advogada em poucos meses, enfrentou e enfrenta todas as paradas comigo, além de minha companheira há 26 anos, é minha conselheira para todas as horas, sempre que tenho dúvida sobre que caminho a seguir, recorro a ela, e ela faz o mesmo comigo. Graças a Deus, nos relacionamos muito bem e claro o principal assunto em casa só poderia ser a política. As vezes nossas filhas reclamam quando exageramos nas discussões políticas, mesmo participando do mesmo partido político, divergimos também, porém sempre um ou outro acaba cedendo.