Entrevista (03/04/10): Padre Nilo Buss – Nosso Administrador Diocesano

Entrevista (03/04/10): Padre Nilo Buss – Nosso Administrador Diocesano

Foto: Jornal Diocese em Foco


Natural de Braço do Norte e hoje com 33 anos de Padre. Começou seu trabalho em Tubarão, no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em 1977 a 1982, como Formador e Professor e depois Reitor. Ao mesmo tempo lecionou na atual UNISUL (então FESSC), no Curso de Filosofia. No mesmo período coordenou também a Pastoral da Juventude, até 1980 e, dali em diante, a Pastoral Vocacional. Depois percorreu o mundo em busca de conhecimento e aprofundamento, além de desenvolver seu trabalho como padre. Estudou em Medellin, na Colômbia, em 1983, cursando Especialização em Pastoral Social, no ITEPAL (Instituto Teológico Pastoral para América Latina). Veio de lá a Florianópolis, em 1984, assumindo a Reitoria do SETESC (Seminário Teológico de Santa Catarina) e ainda professor no ITESC (Instituto Teológico de Santa Catarina), na área da Teologia Pastoral. Em julho de 1987 foi chamado a CNBB em Brasília, para assessoria no Setor Vocações e Ministérios. Da capital brasileira voltou a Florianópolis, em 1992, para assumir a Reitoria do SETT (Seminário Teológico de Tubarão), em Florianópolis e novamente professor no ITESC. Em 1997 assumiu, em Brusque, a reitoria do SEFISC (Seminário Filosófico de Santa Catarina), até fins de 2002. Nos anos seguintes: 2003 a 2005, cursou Mestrado em Espiritualidade, no Instituto Teresianum, dos Padres Carmelitas, em Roma, na Itália. Voltando deste mestrado, no segundo semestre de 2005 assumiu, na CEDA (Casa de Encontros Dom Anselmo), a formação dos leigos e leigas. Logo a seguir, com a ida do Pe. Pedro Paulo das Neves, à Bélgica, para estudos, assumiu a Coordenação Diocesana de Pastoral. Em 2009, com a morte do Pe. Donato Darós, acumulou também a função de Vigário Geral, a pedido do Bispo Dom Jacinto Bergmann. Aos 60 anos, padre Nilo Buss foi eleito Administrador Diocesano, em 29 de setembro, pela maioria dos votos em uma reunião realizada na Casa Episcopal que contou com a presença de oito padres do Colégio de Consultores. Ele, na prática, é o responsável pela diocese até a chegada do novo bispo, ainda sem data para acontecer.


A Crítica - Qual é a função do Administrador Diocesano?
Padre Nilo: O Administrador Diocesano tem a função de, em sintonia sempre e em comunhão com os demais integrantes do Colégio de Consultores conduzir, jurídica e pastoralmente, a diocese, enquanto Sede Vacante, isto é, na ausência de bispo diocesano. Ele faz às vezes de bispo, sem ter plenamente seus poderes, como: não poderá admitir e ordenar ninguém no Sacramento da Ordem, por não dispor do poder de Ordem (do Bispo), não pode transferir Párocos até um ano no exercício, entre outras coisas. Neste período de ministério deverá sempre estar em sintonia com o Colégio de Consultores, a Nunciatura Apostólica e Província Eclesiástica em Santa Catarina, da qual Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, é seu arcebispo.    


A Crítica - Como se deu a sua eleição para essa função, na Diocese?
Padre Nilo: Confesso que esta escolha se deu em clima de oração, de reflexão e de co-responsabilidade, entre os oito integrantes do Colégio de Consultores. Depois de nossa oração fez-se uma análise da conjuntura da caminhada em nossa diocese. Tinha-se também à disposição um texto chamado “Vade mecum”, com as principais responsabilidades de um Administrador Diocesano, consensual, a partir do Direito Canônico e da prática de outros Administradores Diocesanos, como contribuição da assessoria jurídica da CNBB. Partilhávamos também na época o conteúdo do diálogo que eu havia tido, dias antes, na função de Vigário Geral da Diocese, com o Núncio Apostólico Dom Lorenzo Baldisseri. Este, em Pelotas/RS, logo após a tomada de posse de Dom Jacinto Bergmann, me chamou à parte para algumas recomendações. Estas eu as partilhei nesta reunião da eleição do Administrador Diocesano, que eu presidia por ser o membro mais idoso do Colégio de Consultores. Assim reza o Direito Canônico.   


A Crítica - Quais são os problemas que o senhor, como Administrador, vem enfrentando na Diocese?
Padre Nilo: Problemas especiais eu não teria a mencionar. Apenas faço menção aos limites que nós todos, por sermos humanos, quer sejamos padres, seminaristas, lideranças leigas ou consagrados, expressamos no nosso dia a dia. São limites de competência, pelo fato de não levarmos a efeito pleno o exercício do ministério que exercemos. São ainda sentimentos que atrapalham, fruto de estímulos ou de vontades que nos habitam. Afinal são nossos limites humanos.     


A Crítica - O senhor, como Administrador Diocesano, está contando com o apoio de todos os padres, de todos os presbíteros e de todos os leigos de nossa Diocese?
Padre Nilo: De um modo geral, sim. Há, como o disse acima, algumas vontades que se impõem diferenciadamente. Ademais, ter-se a unanimidade é muito difícil. Agora percebo que há algumas poucas exceções onde, se até os bispos que são bispos, têm problemas, menores ou maiores, em conduzir determinadas dioceses, um Administrador Diocesano, por ser padre, terá algumas dificuldades maiores, em especial na forma como o Colégio de Consultores encaminha e propõe as soluções. Dizemos que se tem alguma crise de autoridade como se tem também crise de obediência.  


A Crítica - O senhor na função de Administrador pode substituir algum padre?
Padre Nilo: O Administrador Diocesano, em sintonia com o Colégio de Consultores pode, somente depois de um ano, fazer transferência de Párocos. Quanto a Vigários Paroquiais, sim, estes podem ser remanejados, dependendo das necessidades, a qualquer momento.   


A Crítica - O Administrador não pode promover ordenação? Como é que fica a situação de dois seminaristas de nossa Diocese que já concluíram seus estudos?
Padre Nilo: As ordenações, tratando-se de Diaconal, ou mesmo Presbiteral, são atribuições próprias do Bispo. Mas, de acordo sempre com o Colégio de Consultores, o Administrador, segundo o Direito Canônico, pode até emitir Cartas Demissórias, isto é, aprovando um candidato, para a ordenação diaconal. Como o disse acima, todo o Colégio de Consultores deverá estar de acordo. Chamar-se-ia, então, um bispo de outra diocese a quem o Administrador Diocesano poderá dar a autorização para esta ordenação. Quanto à pergunta feita, estamos em diálogo e busca de discernimento junto ao arcebispo em Florianópolis. 


A Crítica - Na sua ótica, como está a participação dos jovens em nossa Diocese?
Padre Nilo: Constato que de formas muito heterogêneas, isto é, diversas é esta sua participação. Um pouco depende de como os Párocos encaminham este trabalho de evangelização dos jovens. Uns levam mais jeito que os outros. Há também a questão da metodologia utilizada. Hoje as expressões são muito plurais. Há quem goste da forma e da metodologia da PJ. Outros buscam expressões mais próprias em Movimentos, como o Cursilho de Cristandade, o Movimento da Renovação Carismática Católica (RCC) e outros ainda. O Setor Juventude na Diocese, sob animação da Ir. Elisângela Alencar, tem encaminhado a articulação das diferentes frentes de trabalho com jovens. Há sucessos diferenciados aqui e acolá. Mas, de um modo geral tem-se bastante dificuldade de entender os jovens nas suas diferentes concepções e anseios.  

  
A Crítica - Como o senhor observa o crescimento das Igrejas evangélicas?
Padre Nilo: Vejo-o com preocupação, se este aumento se dá devido a dificuldades concretas e desconfortos com a Igreja Católica, com pessoas, estruturas e lideranças, etc. Preocupa também se for devido à busca pela teologia da prosperidade, da promessa por curas físicas, se acompanhadas por fortes expressões de proselitismos e sem um mínimo de abertura para um diálogo ecumênico. Mas, nem sempre é assim. Percebe-se que para outros a mudança de Igreja foi porque foram melhor acolhidas em situações de sofrimento, quando provadas por doenças graves e não tanto por busca de mais doutrina. Afinal, a Bíblia nos é comum. Quem sabe, entre nós católicos a lemos pouco e muito menos a colocamos em prática. Sim, isto é mais grave: mudança por falta de caridade nossa! Ademais, a forma do apego a uma religiosidade popular que não encontra respaldo total quando se tenta aproximá-la mais do texto bíblico, poderá também ser uma pedra de tropeço para outros. Mas uma coisa é certa: falta-nos, aos católicos, mais formação bíblica e mais espírito missionário de acolhida e visitação.     


A Crítica: Qual a importância da terceira idade para a igreja?
Padre Nilo: Esta importância é muito grande ou deveria ser. Felizmente está-se atento e se multiplicam as experiências da Pastoral da Terceira Idade, fundada pela Dr. Zilda Arns, de saudosa memória. Nesta pastoral superam-se os “Clubes ou Grupos de Terceira Idade” dos quais apenas participam idosos que ainda podem sair de casa, caminhar sozinhos, dançar, viajar... A Pastoral da Terceira Idade se ocupa de Pessoas Idosas que não têm mais condições de sair sozinhas e têm pouco apoio e presença de pessoas no seu dia a dia.  


A Crítica - O senhor tem conhecimento de alguma indicação para o cargo de bispo da Diocese de Tubarão?
Padre Nilo: Até o momento, silêncio absoluto da parte da Nunciatura Apostólica. Apenas passaram alguns nomes sobre os quais se pediu opinião porque foram indicados como eventuais candidatos a bispo, mas sem especificar para que diocese concretamente.  


A Crítica - Fala-se que há uma lista com três nomes de padres de nossa Diocese, feita por Dom Jacinto, a pedido da Nunciatura, para uma eventual promoção e conseqüente ascensão ao posto de bispo de Tubarão. Isso é verdade? Se a resposta for afirmativa, quais seriam os padres?
Padre Nilo: Desconheço esta lista tríplice. Ademais, se ela existisse, estaria “sob segredo pontifício” quem a conhecesse. O que é praxe é a Nunciatura solicitar dos bispos do referido Regional da CNBB (Sul IV, o nosso) uma indicação de nomes, para possíveis candidatos a bispo numa diocese, sede vacante, como a nossa.


A Crítica - Que recado o senhor tem a dar aos presbíteros, aos religiosos e aos leigos sobre o andamento desse seu trabalho junto a nós?
Padre Nilo: Em primeiro lugar peço sempre mais as orações para um bom desempenho no trabalho de Igreja que levamos à frente, sempre em diálogo e consenso com o Colégio de Consultores. Uma segunda intenção de nossas Comunidades, em mais de 400 em nossa diocese, é a oração ao Divino Espírito Santo para que tenhamos o mais prontamente possível um grande Bispo-Pastor.


A Crítica - Este ano a Campanha da Fraternidade tem um caráter ecumênico, este objetivo foi atingido? De que maneira?
Padre Nilo: Penso e avalio que nos falta muito para vivenciarmos um clima de maior ecumenismo entre nós e abraçarmos juntos algumas causas e compromissos que nos são comuns. Além do mais sentimo-nos prejudicados porque as Igrejas do CONIC que estão presentes entre nós e que abraçaram esta Campanha da Fraternidade Ecumênica têm pouca expressão entre nós, exceto a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).  


A Crítica - Foi difícil trabalhar o tema economia e vida? Como foi encarada esta questão da economia diante do Dízimo?
Padre Nilo: O tema é muito desafiador. Ele reclama mudança de mentalidade, em primeiro lugar. Depois, a temática tem que passar pelo coração, isto é, pela subjetividade das pessoas que somos e então serem somados esforços por compromissos comuns que derivem das competências e lideranças exercidas pelas pessoas. Aqui necessariamente se terá que passar pelo bolso das pessoas e das instituições civis e governamentais, como também pelos compromissos com a fé, pela Pastoral do Dízimo. Isto delonga esforços. Por isso esta Campanha não pode terminar com o término desta Quaresma.    


A Crítica - Sua mensagem para a comunidade católica da Diocese de Tubarão nesta Páscoa de 2010.
Padre Nilo: Desejo de coração, como Administrador Diocesano, uma Santa e abençoada Páscoa de Jesus Cristo. Em assim sendo ela pede de cada um de nós batizados, de nossas Comunidades e Paróquias, um compromisso histórico com a missão de Jesus Cristo. A Páscoa nos pede um compromisso para atualizar qual seria a prática do próprio Jesus Cristo hoje, discernindo-a sob a ação do Espírito Santo, o grande DOM de Jesus Ressuscitado. Meus irmãos e irmãs, FELIZ PÁSCOA!   

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Frase:
“Uma coisa é certa: falta-nos, aos católicos, mais formação bíblica e mais espírito missionário de acolhida e visitação”.