Entrevista (20/03/10): Padre Sérgio Jeremias (Pe. Sérgio)

Entrevista (20/03/10): Padre Sérgio Jeremias (Pe. Sérgio)

 

 

Pe. Sérgio Jeremias de Souza nasceu em 07 de agosto de 1965, em Travessão – Braço do Norte. Tornou-se padre no dia 15 de novembro de 1992, ordenado pelo bispo Dom Hilário Moser. 
Já atuou como Pároco da igreja Nossa Sra. Mãe dos Homens em Araranguá; Auxiliou na Formação dos Seminaristas de Filosofia no SEMINÁRIO FILOSÓFICO DE TUBARÃO; Pároco de Morrotes; Reitor do Seminário Menor Nossa Sra. de Fátima em Tubarão; Pároco de Humaitá e atualmente é Pároco de Vargem do Cedro e Reitor do Santuário da Bem Aventurada Albertina.
Também é membro do Conselho de Presbíteros da Diocese de Tubarão.
Escritor com mais de 60 livros escritos na área INFANTIL, RELIGIOSA E AUTO-AJUDA. Colabora na Elaboração de Materiais devocionais para a DIOCESE DE TUBARÃO (Livros de Grupos de Família). Possui programas em rádios da cidade de Tubarão e na UNISUL TV. Escreve uma coluna diária no Jornal Notisul.

 

A Crítica: A Campanha da Fraternidade deste ano busca orientar as pessoas para que saibam definir os preceitos religiosos e os econômicos. Como o senhor explica isso, até porque, um contingente questiona o dízimo. E a questão da pobreza?
Pe. Sérgio: A Campanha da Fraternidade tem um foco bem preciso: ECONOMIA E VIDA. Quando ela traz o lema "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" ela recorda a frase de Jesus que, claramente, diz que os valores divinos devem estar acima dos valores do egoísmo. Há pessoas que fazem do dinheiro e do poder o Deus da sua vida... Aí é que está o problema. O dinheiro, administrado de forma correta, se torna sinal de bem-estar para todos e erradica a pobreza.

 

A Crítica: O senhor conhece outras realidades fora da Diocese de Tubarão. Numa entrevista exclusiva concedida a este jornal, em seu retorno, fez um diagnóstico sobre tudo aquilo que acompanhou. Destacou a questão das seitas. Como é isso?
Pe. Sérgio: A questão da seita sempre vai inquietar qualquer cristão consciente. O sectarismo (daí o nome seita) é uma leitura parcial da realidade ou da fé. Olha-se apenas determinado ponto ou foca-se apenas determinado aspecto. O sectário, se não amadurece sua fé, pode fazer de seu líder religioso um verdadeiro "ídolo" a ser seguido cegamente. E ai, no meu modo de entender, reside o Perigo.

 

A Crítica: O senhor escreve coluna pra um jornal diário da região e nesta semana tocou num assunto que envolveu a política e promessas. Enquanto muita gente faz promessas e as cumpre, o senhor fez essa cobrança ao governador sobre o acesso até o Santuário da Beata Albertina?
Pe. Sérgio: Sim, fiz esta cobrança do asfalto e parece que deu resultados... A promessa atual é que na próxima semana as pendências jurídicas estejam resolvidas e a licitação do asfalto de São Martinho até Albertina esteja concluída. Resta tocar a obra...

 

A Crítica: Como está o projeto para que a região possa abrigar o Santuário?
Pe. Sérgio: O Santuário novo é um sonho para daqui ha alguns anos. Por enquanto o bispo Dom Jacinto decretou Santuário à atual igreja de São Luís. Para nós é mais urgente dar continuidade ao PROJETO MEMORIAL DA BEM AVENTURADA ALBERTINA. Trata-se de um espaço que compreende capela do martírio nova, sala de ex-votos e pequeno museu de Albertina. Prometeram-nos uma primeira parcela de 200 mil reais para este ano (em 4 vezes) para iniciar a obra. Esperamos que ela seja liberada. Isso gerará turismo e empregos na região.

 

A Crítica: Falou-se muito no ano passado e até o Jornal A Crítica publicou matéria questionando a informação, de que o senhor estaria de volta a Tubarão? Ou de uma saída para outra Diocese. O que se tem de concreto sobre isso?
Pe. Sérgio: Por enquanto tenho o compromisso firmado junto ao bispo de acompanhar o processo de Beatificação de Albertina, bem como os encaminhamentos do seu Santuário. Este é meu projeto de vida a curto e em longo prazo até que me peçam algo diferente.

 

A Crítica: Temos visto muita divulgação sobre a infestação das drogas entre os jovens e essa disseminação os tem afastado da religiosidade. Existiria um viés para que a Igreja se incorporasse ou tomasse o assunto como tema de campanhas?
Pe. Sérgio: Está prevista uma futura campanha da Fraternidade sobre drogas. Trata-se de uma chaga cada vez mais aberta na sociedade. Se não nos unirmos como um todo (toda a sociedade) teremos um grave problema social gerado, sobretudo por drogas de alto poder de dependência como o Crak. Por enquanto continuamos junto ao Porta Aberta (Humaitá) nosso trabalho de grupos de dependentes e seus familiares, bem como nossa Casa de Recuperação também em Tubarão.

 

A Crítica: Muitos padres têm vem se destacando através da música e viraram estrelas da mídia. Enquanto isso, o padre Sérgio Jeremias, continua sendo o mensageiro da palavra de Deus que não investiu no marketing. Não seria um bom cantor ou a palavra tem endereço direto através de sua metodologia?
Pe. Sérgio: Desde que me ordenei Percebi que Deus pedia de mim que frutificasse uma área específica: a pregação do Evangelho de forma falada e escrita. Isso procuro fazer como obrigação de fé e vocação... Por amor a Jesus. Deixo as canções para quem tem voz melhor (risos). A nós compete semear: Deus faz frutificar.

 

A Crítica: Muita gente pede sua volta às igrejas de Tubarão. O que isto significa para o senhor?
Pe. Sérgio: Percebo o carinho das pessoas e sua sede por pregações e entendimento da Palavra de Deus. Tubarão tem bons pregadores... De minha parte, amo muito esta cidade, pois aqui desenvolvi 13 (treze) anos de meu ministério. E isto não se esquece em um dia...

 

A Crítica: Nós sabemos que a RCC foi uma grande alavanca para que os jovens voltassem para a Igreja. Como o senhor vê a atuação deles na Igreja de hoje? E o que o senhor acha dos padres que aderiram o movimento?
Pe. Sérgio: A RCC é um Movimento que nasceu como tantos outros, do agir do Espírito Santo. Tem aproximado muitos jovens de Deus. Penso que o padre pode até nutrir simpatia por este ou aquele movimento, mas deve dar-lhe exclusividade. A Igreja tem muitas formas de expressão de sua espiritualidade, em sua maioria belas e eficazes.

 

A Crítica: O senhor tem programas de rádio, assina coluna em jornais, tem MSN, tem comunidade no Orkut, Twitter, blog, a sua missa é transmitida via on-line... Qual a importância da mídia para a Igreja?
Pe. Sérgio: Aprendi que a Igreja deve ir onde os jovens e os adultos que não a buscam estão. A mídia encarna aquilo que Jesus mesmo disse: deve-se pregar o evangelho de cima dos telhados. Bem utilizada à mídia pode ser instrumento de bênçãos.

 

A Crítica: Estamos perto de mais uma eleição, o que o senhor, como representante da Igreja, tem a dizer aos fiéis?
Pe. Sérgio: Honestidade, integridade, esperança do novo são sentimentos e certezas que não se deve abandonar. A maturidade política passa pela visão do todo: não escolher apenas o que deve me beneficiar, mas o que pode beneficiar toda a sociedade.

 

A Crítica: A Diocese de Tubarão no momento encontra-se sem bispo. O senhor tem alguma idéia de quem vira para cá? Algum padre de Tubarão poderá ser ordenado bispo?
Pe. Sérgio: Não temos idéia alguma de quem possa ser. Os escrutínios (pesquisa da Santa Sé) seguem por ai. Se será da diocese ou não, não sabemos...

 

A Crítica: O senhor considera a si mesmo um Pecador?

Pe. Sérgio: Todos somos pecadores e necessitados da graça e da misericórdia de Deus. Considero-me um pecador que Deus amou em Jesus desde toda a eternidade.

 

A Crítica: Durante a celebração de uma missa na igreja de Humaitá já presenciamos o padre Sérgio chorando. Em que momento da Missa o senhor sofre mais? E qual seu maior desgosto, se é que tem algum?
Pe. Sérgio: Já chorei em missas principalmente no momento da consagração: se conseguíssemos compreender todo o mistério que se dá ali, naquele momento. Já chorei também quando, numa pregação, tento fazer as pessoas compreenderem a grandiosidade do amor de Deus e a perda de dignidade que o pecado pode provocar no ser humano. Não foi choro de tristeza não: foi choro de emoção mesmo.

 

A Crítica: O senhor alguma vez já se sentiu abandonado pelos que dirigem a Diocese de Tubarão?
Pe. Sérgio: Nunca me senti abandonado... Deus guia minha vida. O voto de obediência à Igreja pelas mãos do bispo é uma forma de deixar-se guiar pelo Espírito Santo que nela age. Se não entendo o "por que" das coisas, tento compreender o "para que" das coisas.

 

A Crítica: Falando em igreja de que o senhor hoje sente vergonha?
Pe. Sérgio: Vergonha de nem sempre, como cristãos de um modo em geral, não conseguirmos viver honestamente os valores do evangelho. O contra testemunho de um cristão, leigo ou religioso, Perpetua os sofrimentos de Cristo no mundo.

 

A Crítica: Onde o senhor gostaria de celebrar uma missa algum dia?
Pe. Sérgio: Em Belém e na Igreja do Santo Sepulcro já tive a alegria de presidir uma celebração. Um local com o qual ainda sonho é o Monte Tabor, em Israel, Montanha da Transfiguração de Jesus.

 

A Crítica: A missa do Padre Sérgio, quando tem novena dura quase duas horas. Seu semblante e seus gestos são de alguém inteiramente concentrado em Deus. Por que suas missas atraem tanta gente?
Pe. Sérgio: Confesso que não sei... Talvez porque o povo tenha sede da Palavra de Deus. Sempre procurei fazer bem feito aquilo que a igreja me pede na liturgia, sem criar e nem mudar nada. Apenas a novena (quando há) se insere no momento das súplicas, nada mais. Mas cada missa, cada sacramento, para mim, é como se fosse celebrado a primeira vez: precisa ser feito com o todo de meu ser, alma e sentimento.

 

A Crítica: Qual padre o influenciou em sua carreira?
Pe. Sérgio: Dois santos: SÃO JOÃO DA CRUZ E SÃO GERALDO MAJELA... E o Padre Valentim, de Braço do Norte (já falecido).

 

A Crítica: O senhor tem uma personalidade forte. Já sofreu alguma censura oficial da Igreja?
Pe. Sérgio: Não, nunca... Quando digo algo, denuncio algo ou prego algo eu procuro fazê-lo com a visão da Igreja a respeito daquele assunto. Aprendi uma coisa: o evangelho não se negocia; simplesmente se aceita se quisermos nos considerar cristãos. Deus ama, mas exige de seus filhos e filhas. As pessoas precisam a aprender a gostar de nós pela verdade e não por mentiras.

 

A Crítica: O senhor como membro da igreja Católica está preocupado com o crescimento das religiões evangélicas?
Pe. Sérgio: Preocupado e ao mesmo tempo triste... Mas a grande pergunta que me fica é sempre: o que o povo que sai de nossas fileiras está buscando, que ainda não conseguimos oferecer para dar sentido à sua vida? O fato da mudança é uma oportunidade de crescimento para nós católicos se nos fizermos às perguntas certas, em busca de resposta. Os sinais estão ai, é preciso saber interpretá-los.

 

A Crítica: O senhor já escreveu diversos livros de auto-ajuda. Acha que eles funcionam?
Pe. Sérgio: O livro é uma placa... Apenas aponta o caminho. Mas toda ajuda é preciso encontrá-la em si mesmo e em Deus. Deus não vai fazer por mim o que eu preciso fazer. São dois companheiros caminhando de mãos dadas, abraçados: aí sim é possível vencer a atração do abismo.

 

Frases:
... Já chorei em missas principalmente no momento da consagração. Não foi choro de tristeza não: foi choro de emoção mesmo.

... As pessoas precisam a aprender a gostar dos padres pela verdade e não por mentiras.